Como criar o futuro: A sua margem é a minha oportunidade

Evandro Milet – A Gazeta 07/05/2022

 

A frase de Jeff Bezos sintetiza a força da economia de mercado. Se uma empresa está muito lucrativa, imediatamente acende um alerta para um empreendedor antenado de que há espaço para mais um. Essa é uma das maneiras que empreendedores interessados em montar uma startup podem perceber uma oportunidade. Outra maneira é observar no seu dia-a-dia tudo que incomoda a alguém. Atividades que exigem muito tempo, muito deslocamento, muito trabalho, muita dificuldade de entender, com poucas escolhas, sem muita informação, com muitos erros, com muita gente, com muita burocracia ou com intermediação podem sinalizar, para um olhar atento, uma oportunidade.

Há oportunidades que exigem um grau de sofisticação para serem percebidas. As dores dentro de um ambiente industrial, por exemplo, não são perceptíveis de fora. E muitas vezes, as soluções demandam um aparato tecnológico que exige conhecimento especializado. Muitas startups são idealizadas por estudantes, que conseguem olhar em volta apenas o que lhes é acessível, daí surgindo os apps de baladas ou as tentativas dos novos Uber ou Airbnb. Startups em áreas específicas, em construção civil, medicina, urbanismo ou indústria exigem conhecimento especializado, em princípio. Os projetos de inovação aberta, com os desafios lançados por empresas, a partir das suas dores, estão abrindo essa porta.

De qualquer forma, nas palavras de Nizan Guanaes: “Empreendedor é o sujeito que tira de onde não tem e coloca onde não cabe”. É preciso dedicação, resiliência, muito sacrifício e couro grosso para levar pancada. Raramente se consegue tocar uma startup sem apoio financeiro explícito. No início, a família, os amigos e eventuais investidores-anjo entram apoiando, mas um crescimento forte necessitará de apoio de um fundo de venture capital – e cresceu muito a oferta de fundos no mercado. Quem consegue crescer bem, até pelo menos um milhão de reais de faturamento/mês, sem apoio de fundos, é muito valorizado por eles.

Esses fundos têm suas teses, uns gostam de entrar em empresas early stage, mais arriscadas, mas com cheques menores, outras querem empresas já faturando bem em um mercado estabelecido, investindo cheques maiores, mas reduzindo os riscos. Todos, porém, querem apostar em empresas com potencial de escalar rápido, com forte barreira de entrada no negócio, com um modelo de negócio que faça sentido, uma equipe preparada e dedicada, com produto validado no mercado e com algum faturamento. Um ponto a verificar é o CapTable, ou seja, a Tabela de Capitalização onde estão descritos os acionistas e investidores de uma empresa, com a participação real de cada um deles na sociedade. Fundos costumam fazer restrições em startups com CapTable onde os fundadores detém pouca participação, considerando que serão necessárias algumas rodadas de investimento e não haverá espaço para abrigar esses investimentos no capital.

O novo Funses, com 250 milhões de reais do fundo soberano do Espírito Santo, gerido pelo consórcio TM3/ACE, com um modelo multiestratégia, vai disseminar esses conceitos, investindo tanto em empresas iniciantes como maduras e vai acelerar o ecossistema capixaba de inovação. Não será surpresa se, em relativamente pouco tempo, esse ecossistema se equiparar aos bem sucedidos casos de Florianópolis e Recife. 

A melhor forma de prever o futuro é criá-lo(Alan Kay).

 

 

  • Evandro Milet é Consultor em inovação e estratégia
  • http://evandromilet.com.br/

 

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Publicado em A Gazeta em 07/05/2022