Depois de alguns anos de obscurantismo completo e carência de recursos, os temas de C&T&I renascem fortalecidos no âmbito da nova política industrial lançada recentemente. As críticas feitas na imprensa parecem miradas no retrovisor, citando pontos que não aparecem no documento da NIB-Nova Indústria Brasil. Transferências do Tesouro para o Bndes, motivo de críticas em política anteriores, simplesmente não existem nesta versão. Políticas de substituição de importações com reserva de mercado, também não. Escolha de campeões nacionais também não consta. Há setores e temas baseados em estratégias óbvias como saúde, pela situação percebida na pandemia, ou defesa. Há setores que aproveitam vantagens competitivas do Brasil, como é o caso da agroindústria e da bioeconomia. Há outros que tentam puxar a indústria para atender projetos sociais prioritários como habitação popular e saneamento. E há setores que são tendências mundiais, sinalizados em políticas de países avançados como energias alternativas e o mundo digital.

O programa mira também demandas transversais como ambiente de negócios, formação de pessoal técnico e exportação, esta sempre relatada como deficiência fundamental de políticas anteriores voltadas para ocupar apenas o mercado interno.

Porém o ponto fundamental é a ênfase em C&T&I. O neologismo da neoindustrialização procura se distinguir de uma simples reindustrialização, por abordar não as indústrias tradicionais, que seguem sendo importantes, mas trazendo as novas indústrias, dependentes fundamentalmente de C&T&I.

As críticas à reversão do fechamento do Ceitec-Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada no Rio Grande do Sul, antes condenada à extinção, expõem uma visão distorcida da competência nacional e das possibilidades do setor. A cadeia produtiva do setor de microeletrônica, acrescida agora da co-irmã tecnológica, a fotônica(bem conhecida pelos onipresentes cabos de fibras óticas) é ampla e com vários nichos que podem ser supridos pela competência nacional. Se abandonarmos a possibilidade de atuar nesse campo, é melhor também fechar os cursos de física e química, fundamentais para formar pessoas de alta competência técnica na área e para quem o único caminho será o exterior.

Vantagem comparativa não é destino, senão a China e Taiwan não teriam a competência nessa área e nem nós saberíamos projetar aviões. Vantagem comparativa se cria, principalmente com C&T&I.

Os novos editais de subvenção econômica da Finep, voltados para empresas e universidades, abrem o leque das possibilidades dos novos temas para a neoindustrialização: energias alternativas, bioeconomia, fármacos, insumos e equipamentos para o agronegócio, semicondutores, economia circular, cidades inteligentes, sustentabilidade, inteligência artificial, tecnologias quânticas e muito mais.

A inteligência nacional, nas universidades e nas empresas, está desafiada e agora com bastante recursos para criar as nossas novas vantagens competitivas.

Publicado no Portal ES360 em 10/03/2024