A grande maioria dos empresários capixabas não se deu conta ainda das transformações por que passa o mercado de capitais, permanecendo alheios e isolados em suas empresas familiares, à margem das inúmeras oportunidades que se apresentam em um novo capitalismo. Fundos de “private equity” procuram as melhores empresas propondo compra de participações societárias(já estão circulando por aqui) em troca de participação na administração, visando uma valorização da empresa, seguida de movimento de consolidação com a compra e fusão de outras empresas do mesmo ramo para posterior abertura de capital ou venda de participação para comprador estratégico, trocando poder familiar por valor de mercado como já fizeram diretamente grandes empresas. O caso da Natura, conhecida empresa nacional de cosméticos, é interessante. O valor de mercado da empresa na época do IPO(oferta pública inicial, da sigla em inglês) em 2004 era de R$ 3 bilhões, sendo a participação do controlador de 74%, ou seja, R$ 2,2 bilhões. Atualmente, o acionista majoritário tem uma parcela menor, de 58%, mas de um grupo que vale R$ 20 bilhões. A fatia, portanto, corresponde a R$ 11,9 bilhões. As empresas que passam por processos desse tipo modernizam a sua governança corporativa, separando a propriedade da gestão, ampliando a transparência e a prestação de contas aos acionistas e ao mercado com a contratação de auditorias independentes, formando Conselhos de Administração com a participação de conselheiros independentes e entregando muitas vezes a operação da empresa para profissionais do mercado.
Não é fácil a transição e a sensação de perda de poder em empresas familiares construídas a duras penas por empresários, na maioria das vezes sem nenhuma bagagem acadêmica em administração. A alternativa porém, é perigosa. A empresa que ficar parada pode ser simplesmente atropelada por grandes empresas que se consolidam no seu ramo de negócios, ganhando escala, capacidade de investimento e visibilidade de marketing.
Seria oportuno que o Governo Estadual contribuísse para um processo de consolidação de empresas capixabas de diferentes ramos, à semelhança do que o BNDES e os fundos de pensão têm feito com algumas empresas nacionais. Seria a forma de manter o processo decisório nas mãos de empresários capixabas antes que empresas de fora do Estado ocupem os espaços, processo que já aconteceu com as grandes empresas. Caberia a criação de um fundo de private equity(inclusive com royalties do petróleo e a atração de fundos de pensão e BNDES) que investisse nas empresas locais, visando fortalecimento e consolidação inclusive com a aquisição de empresas de outros estados. Outras ações seriam a atração de fundos privados para operar no Estado dentro de uma visão de política industrial e um movimento de modernização de gestão das empresas locais onde o Programa PAEX já oferecido pela Fundação Dom Cabral é um bom exemplo. Caberia também a criação de um fundo de venture capital para capitalizar pequenas empresas de base tecnológica com potencial de crescimento. Na oportunidade de um novo Governo é hora de modernizar o capitalismo capixaba.