Em 1989 o Brasil colloriu. Um presidente com aquilo roxo tentou uma bala de prata contra a inflação, mas deixou todo mundo vermelho de raiva sem poupança. Pediu para as ruas vestirem verde e amarelo e elas vestiram preto – e a situação ficou dessa mesma cor.
Lula, depois de trocar a branquinha por caros vinhos tintos, pintou a fantasia de um mundo cor-de-rosa, um mar azul, o ouro negro brotando no pré-sal, gerando uma nota preta, até que bateu a crise – feita pelos louros de olhos azuis, segundo ele. Com Dilma, a escuridão aumentou e o povo se ferrou de verde e amarelo. Milhões com bilhete azul, todo mundo no vermelho, cor do partido no poder que brigava nas ruas com os de verde e amarelo, enquanto os black blocs quebravam tudo. Eduardo Cunha comandava tenebrosas transações sem nem ficar vermelho, talvez furta-cor, com verdinhas rolando na Suiça, onde se lava mais branco, até levar, junto com Dilma, o cartão vermelho do Congresso. Enquanto isso, o MST delirava, ameaçando colocar um exército vermelho fajuto na rua. Mas o juiz Sérgio Moro pôs tudo preto no branco, muita gente lívida, sem cor, tremendo feito vara verde, enquanto sítios e triplexes surgiam com proprietários laranjas. Muita mala preta, muita gente presa, mas os capas pretas do STF vão soltando.
Em 2018 o povo fez a sua lista negra e não votou em branco como se imaginava. A equipe econômica assume com carta branca para abrir caixas pretas, acabar com os dias cinzentos e com sinal verde para as reformas. No governo, uns brilhantes, outros opacos, mas a maioria pensa como Deng Xiaoping: ”Não importa se o gato é preto ou branco, desde que ele pegue os ratos”. A imprensa marrom, em blogs chapas-brancas, critica o governo, saudosa dos falsos anos dourados, sonhando em tirar o uniforme listrado de Lula.
O governo promete transparência, carregado de verde-oliva, briga com a turma do arco-íris, define que meninos usam azul e meninas usam rosa, diz que nossa bandeira é verde e amarela e nunca será vermelha, coloca tapete vermelho para o louro topetudo americano, mas surgem assessores laranjas, com sorriso amarelo e pálidas explicações. E para fechar com chave de ouro, um golden shower no carnaval.
Nas redes sociais, partidários, pintados para guerra, veem o mundo em preto e branco, sem tons intermediários, um nós-contra-eles invertido. Procurar racionalidade é como o estudo da metafísica para Voltaire que consiste em procurar, num quarto escuro, um gato preto que não está lá. Mas tudo bem, a esperança é a última que morre, embora, para Mário Quintana, ela seja um urubu pintado de verde.
Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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