Estamos acostumados com filmes e séries dos EUA com o contexto social e político dali. Uma ótima oportunidade de ver realidade diferente é a série dinamarquesa Borgen no Netflix. Borgen, ou castelo, é como os dinamarqueses designam o governo, que ocupa o Palácio Christiansborg, em Copenhague, o único edifício no mundo que abriga todos os três poderes de um país: executivo, legislativo e judiciário.
A trama trata da eleição da primeira mulher como primeira-ministra, ética, de centro, nesse país de regime parlamentarista. Mostra um gabinete de ministros metade ocupado por mulheres e uma nitidez ideológica dos partidos de ficção semelhante à realidade do país com muitos partidos, da extrema esquerda à extrema direita.
Mal vista no Brasil, a negociação de ministérios se dá normalmente, como em outros países parlamentaristas. Para montar maioria para governar, há negociações das pautas políticas dos partidos que modificam a posição pessoal e do partido da primeira-ministra. Ela diz que modifica posições porque governa para todos e não apenas para os que a elegeram(amém!). Um partido pede mais verbas para meio ambiente no orçamento, outro quer mais para defesa e às vezes um político demanda uma estrada para o seu distrito.
Há problemas pessoais, trapaças, traições e chantagens e muitas vezes a pureza democrática da primeira-ministra escorrega no jogo do poder.
A Dinamarca tem uma das maiores rendas per capita, onde as pessoas são mais felizes, com a melhor educação, com baixíssimos níveis de corrupção e desigualdade. As pautas refletem temas fortes na região: imigrantes, feminismo, aborto, meio ambiente, energia eólica, espionagem, liberdade de imprensa e direitos humanos, mas nada sobre homicídios, assaltos, miséria ou militares no poder. Um dinamarquês que trabalhou no Brasil estranhava nossa convivência com a morte, algo raro para ele, que só via acontecer por causas naturais e com pessoas na velhice. Corrupção, apenas o uso indevido de cartão corporativo pelo primeiro-ministro anterior, em valores risíveis para o nosso padrão, derrotado por isso na reeleição.
A frugalidade dos políticos indo trabalhar de bicicleta, morando na própria casa e circulando pelas ruas, inclusive a primeira-ministra, faz contraste com a opulência do poder no Brasil.
Quem sabe um dia chegaremos lá.
Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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