As raízes do crescimento

O livro “História da Riqueza no Brasil” de Jorge Caldeira, relata a história do início de um crescimento espetacular do Brasil. E não começou no Império, quando, entre outros problemas, apesar de toda a cultura do imperador Dom Pedro II, não se fundou nenhuma universidade e se prolongou a escravidão mais que no resto do mundo. A renda per capita passou de 670 dólares em 1820 para 704 em 1890, mostrando claramente uma estagnação. Nos EUA, a renda per capita quase que triplicou entre 1820 e 1890 passando de 1,3 mil para 4 mil dólares. A tendência é clara: o século XIX como um todo, e o período imperial em particular, foi um período de estagnação da economia brasileira e, por outro lado, de aceleração da economia mundial. Esse foi o cenário encontrado pelos republicanos que chegaram ao poder.

Logo em janeiro de 1890, Rui Barbosa, ministro das finanças de Deodoro, emitiu 4 decretos que mudaram toda a antiga política econômica imperial. A maior parte das mudanças consistiu em retirar o Estado da função de protetor de grupos amigos contra os riscos do mercado e proteger pela lei a ação dos empresários atuando em ambiente competitivo, antes relegados à informalidade.

Dados recentes dos econometristas mudam a concepção do que aconteceu naquela época. Tudo que se referia aos interesses do mercado interno era invisível para o governo imperial, daí a distorção que persistiu no início da República e que é passada hoje, até nos livros escolares, de que esse teria sido um período de irresponsabilidade fiscal, com emissão de moeda sem lastro e surgimento de empresas fantasmas.

De fato, depois de um século de imobilidade tudo se mexeu depressa. O papel moeda em circulação cresceu 35% em menos de um ano. Em São Paulo, o número de bancos saltou de 5 para 22 entre 1889 e 1890. As indústrias organizadas em sociedades anônimas saltaram de 4 para 64 em 1890, e em 1891 já eram 210. A indústria têxtil passou de 79 mil fusos instalados em 1883 para 280 mil em 1898. A tendência de crescimento se consolidou a partir daí, apesar de crises cíclicas. Em 1907 havia 3,25 fábricas no país, em 1920 eram 13,3 mil. Em 1890 havia 9,9 mil quilômetros de linhas férreas, em 1930 atingiram 32 mil quilômetros. A partir daí, a ênfase foi toda para o modal rodoviário, ao ponto de chegarmos hoje com apenas 28,2 mil quilômetros de ferrovias( dos quais 8,6 mil não estão em uso), menos do que em 1930, e uma distorção enorme na logística de pessoas e cargas no país.

Caldeira esteve em Vitória falando sobre seu livro, escrito com base em novos dados digitalizados que mudam a história.

Sobre o autor:

Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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