Em Soneto de Natal, Machado de Assis conta a situação de um homem, ao relembrar os dias de pequeno, tentando colocar em uma folha branca, na noite de Natal, as sensações de sua idade antiga na forma de um soneto, mas a inspiração não vem e sem conseguir escrever indaga: Mudaria o Natal ou mudei eu?
Escrever não é coisa fácil, e não é só inspiração. Livros ou artigos, ficção ou relatos verídicos, romances ou biografias, há que cuidar de muitos aspectos. Nada como ouvir o que pensam os grandes autores sobre a arte de escrever. Se não temos condição e nem a pretensão de conseguir ler muito do que eles escreveram, muito menos de chegar perto do que eles fizeram, pelo menos podemos tentar aprender o que eles disseram em frases e pensamentos marcantes. Afinal, eles entendem do assunto.
Começamos com um frasista de renome, o jornalista norte-americano H. L. Mencken, dizendo uma verdade que muitos não entendem: “Não há assuntos chatos, apenas escritores chatos”. O texto pode tratar de coisas banais ou muito técnicas e mesmo assim ser agradável de ler. Tem a ver com estilo que pode ser algo positivo ou visto com restrições. O escritor W. Somerset Maugham dizia que “um bom estilo não deveria mostrar nenhum sinal de esforço. O que é escrito deveria parecer um feliz acidente”. Porém, o nosso Mário Quintana adverte, certamente para prevenir a chatice: “Estilo é a deficiência que faz um sujeito escrever sempre do mesmo jeito.”
A prolixidade é outra coisa que afasta o leitor. “Usar muitas palavras para comunicar poucos pensamentos é sempre o sinal inconfundível da mediocridade” reconhece o filósofo Arthur Schopenhauer, corroborado por ninguém menos que William Shakespeare: “O poder de síntese é a alma da inteligência”. Outro erro clássico, que tem a ver com a capacidade de síntese, é tema da advertência de Voltaire para não tentar tratar de muita coisa no mesmo texto e deixar alguma coisa para a imaginação do leitor: “O segredo para ser entediante é dizer tudo”.
Um conselho de muitos deles trata da importância da leitura. O escritor e filósofo espanhol, ou mais precisamente basco, Miguel de Unamuno ensina: “Ler muito é um dos caminhos para a originalidade. Uma pessoa será tão mais original e peculiar quanto mais conhecer o que disseram os outros”. Stephen King, mestre do suspense e do terror, vai na mesma toada: “Se você não tem tempo para ler, você não tem tempo (ou as ferramentas) para escrever. Simples assim.”
William Faulkner, prêmio Nobel de Literatura em 1949, é contundente quanto a isso: “Leia, leia, leia. Leia tudo – lixo, clássicos, bons e maus, e veja como eles fazem. Assim como um carpinteiro que trabalha como aprendiz e estuda o mestre. Leia! Você vai absorver isso. Depois escreva. Se estiver bom, você descobrirá. Se não estiver, jogue fora pela janela”. Para Faulkner, escrever é forma de organizar o pensamento: “Não sei o que penso sobre alguma coisa até ter lido o que escrevi”.
Dominar a língua é fundamental: “Os limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento”, diz o austríaco Ludwig Wittgenstein, para quem a linguagem é o tema principal de reflexão como filósofo.
Para suavizar as ideias siga Charles Baudelaire em sutileza e poesia: “Seja sempre um poeta, mesmo em prosa.” E, terminando, quem gosta de ler vai concordar com o mago da ficção científica Carl Sagan: “Um livro é a prova de que os homens são capazes de fazer magia” e com outro mago da literatura, Jorge Luis Borges: “Que os outros se orgulhem das páginas que escreveram. Eu me orgulho das que li”.
Um Feliz Natal para todos!
Publicado em A Gazeta em 25/12/2021