Apagados não, Gabeira

Fernando Gabeira, em artigo recente em O Globo, argumentando sobre a decadência do Rio de Janeiro, dizia que alguns cariocas sonham com algo não muito grandioso, a normalidade do Espírito Santo, por exemplo, um estado próximo e um pouco apagado do sudeste. O sangue ferveu imediatamente, não que o Gabeira esteja errado – gosto muito dele -, mas pela imagem que passamos para o resto do Brasil. Apagado é o cacete, deu vontade de dizer. Afinal, quem somos nós? E o que queremos ser?

Países pequenos como Singapura, Holanda, Dinamarca, Noruega, Israel, Finlândia, Taiwan e Irlanda conseguem aparecer entre grandes países, como referência em desenvolvimento e nos rankings de educação, ciência, tecnologia e inovação e assim adquirem uma relevância capaz de atrair capitais e respeito da comunidade internacional. Por que não podemos passar imagem semelhante dentro do país? Por que passamos imagem de apagados? Tudo bem que o Espírito Santo passou a ser reconhecido como nota A em finanças, um estado equilibrado, sem escândalos de corrupção, com quadro político, embora pequeno em número, com alguma atuação significativa nacional e com destaque na educação.

Mas falta alguma coisa. Faltam projetos relevantes que atraiam investidores e a atenção do Brasil, embora tenhamos as grandes empresas nacionais como Vale, Arcelor, Fibria, Samarco, Petrobras e Garoto/Nestlé, outras nacionais atraídas pelos incentivos como Weg, Marcopolo, Oxford e Jurong e algumas empresas ou grupos capixabas grandes e médios com forte atuação como Águia Branca, FortLev, Autoglass, Imetame, Frisa. Temos uma vocação para o comércio exterior, grandes tradings operando, e a logística crescente para o e-commerce em expansão acelerada, mas ainda falta muita coisa para não ser considerado apagado.

Há grandes oportunidades na mesa. A nova lei do gás barateia a energia para a indústria. Concessões e PPPs de saneamento e iluminação estão na pauta, assim como novas rodadas do petróleo e a venda dos poços terrestres pela Petrobras. A privatização da Codesa, concessão da 262 e duplicação da 101 estão saindo por aí, a fórceps. A liberação do porto da Imetame com acesso já para a ferrovia promete. A ferrovia até Ubu, no pacote da negociação da Vale para extensão do prazo da Vitória-Minas, promete trazer investimentos siderúrgicos para aquela região, junto com a retomada da Samarco, que sozinha representava 5% do PIB capixaba. E coloca a ferrovia no meio do caminho até o Porto Central, a grande chance de redenção do sul do estado. Temos que aproveitar a ainda subutilização da Vitória Minas, limitada pela sobrecarga no porto de Tubarão. Falta convencer a VLI a trazer mais cargas para o Espírito Santo. E temos que correr. O Porto de Açu de um lado e a ferrovia Oeste-Leste até um porto em Ilhéus do outro lado, ainda mais se for estendida até a Norte-Sul,  podem minar a nossa competitividade logística. Mas vamos acreditar na opinião da turma do agronegócio: se tiver ferrovia e porto eles quintuplicam a produção de grãos. E o mundo compra.

Creio que falta ainda um destaque na atuação das universidades, embora com alguns grupos relevantes e falta uma ênfase no mundo digital, em sua infraestrutura e na explosão de startups, embora alguns avanços. É a economia do futuro e aqueles pequenos países citados entenderam e se posicionaram.

Apagados não, Gabeira. Talvez em processo de iluminação. Espero.

Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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