O Espírito Santo tem sido visto ultimamente de forma muito positiva. Melhor ensino médio do país no Ideb, melhor classificação em Leitura, Matemática e Ciências com estudantes de 15 anos no Pisa, única nota A nas finanças estaduais, Vitória como a melhor cidade para empreender, o aeroporto de Vitória considerado o melhor para até 5 milhões de passageiros. Depois de muitos anos espremidos entre as exuberâncias culturais dos vizinhos Rio, Bahia e Minas, começamos a aparecer como um destino turístico, bons programas sociais e finanças equilibradas no meio de verdadeiros desastres estaduais.
Depois da criminosa extinção sumária do Fundap, patrocinada pela Odebrecht junto a congressistas corruptos para viabilizar seu terminal no Porto de Santos; depois do desastre da Samarco, responsável por 5% do PIB; depois de uma crise hídrica violenta, é até impressionante termos sobrevivido e ainda considerados referência em muitos critérios.
Em alguns aspectos, porém ainda temos aqui no estado o complexo de vira latas, do qual falava Nelson Rodrigues, significando a inferioridade em que o brasileiro se colocava no mundo.
Falta ao Espírito Santo o cosmopolitismo de Rio e São Paulo, a efervescência cultural de Bahia e Minas com sua música e seus escritores. Isso só se resolve com o tempo, com uma persistente postura de valorização das coisas locais, como disse Tolstoi na sua célebre frase: “Se queres ser universal, canta tua aldeia”.
O provincianismo e o vira-latismo fazem com que os profissionais locais não sejam valorizados. Empresas pagam fortunas a palestrantes e consultores de fora do estado e pedem aos locais, igualmente competentes, que trabalhem de graça ou por remuneração baixa. Uma visão pequena de que santo de casa não faz milagre. As grandes empresas internacionalizadas até conseguem enxergar isso sabendo avaliar competência em qualquer lugar. Tanto que criaram uma rede de fornecedores de produtos e serviços que espalhou competência por todo o país em siderurgia, celulose, mineração, meio ambiente, TI, engenharia e manutenção. Pagam valores compatíveis com São Paulo ou Rio para trabalhos semelhantes, o que já não acontece com as outras empresas e instituições. Sem valorizar a competência local, seremos percebidos como periferia técnica e nunca teremos uma marca de excelência, como já conseguiram cidades fora dos grandes centros, como Recife e Florianópolis. Os consultores de tecnologia, gestão e outras áreas sabem que devem se viabilizar fora do Estado, porque aqui não são devidamente valorizados. Precisamos aprender a cantar mais a nossa aldeia.
Sobre o autor:
Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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