A Gazeta
06/03/2012
Evandro Milet
Grandes debates ocorrem pela imprensa depreciando a exportação de commodities pelo Brasil em detrimento de uma possível agregação de valor nos produtos de exportação. Vale para o minério de ferro, que deveria ser exportado já transformado em placas de aço ou mesmo em automóveis ou outros produtos acabados, vale para as commodities agrícolas onde exemplos afloram de uma Alemanha ou Itália que dominam o mercado do café sem ter um único pé plantado, para a exportação de blocos de rochas ornamentais em vez de chapas, ladrilhos ou produtos acabados de marmorarias e vale para o petróleo onde se demanda que tenhamos refinarias que criem produtos de maior valor para a exportação.
Todos esses argumentos são válidos e devem ser observados embora alguns aspectos práticos afetem o que seria o senso comum neles embutidos. Por uma característica do mercado, as margens da indústria de mineração são atualmente bem maiores que as da indústria do aço, basta ver o movimento das siderúrgicas em adquirir e explorar minas de minério de ferro. No café e nas rochas, o controle das cadeias de distribuição mundial por países desenvolvidos, ou mesmo a infinita capacidade da China em comprar blocos no Brasil, processá-los na China e entregar chapas mais baratas que nós no mercado americano representam dificultadores para a agregação de valor.
As nossas distorções em relação ao mercado internacional passam pela alta carga tributária com cascatas, custo de capital insano, principalmente para o mundo fora do BNDES como o capital de giro, legislações trabalhistas pouco flexíveis, burocracias infernais e o mais deplorável: um nível de educação incompatível com a nossa posição de sexta economia do mundo.
Ao lado de tentar resolver esses nossos clássicos problemas, tentando agregar valor aos produtos, poderíamos assumir que somos bons mesmo em exportação de commodities minerais e agrícolas e que, se temos dificuldades em agregar valor aos produtos, podemos agregar valor às cadeias, através da logística, dos equipamentos e serviços para os processos, da tecnologia agrícola, da indústria naval e das navipeças, da engenharia básica, da construção civil, dos equipamentos e serviços ferroviários, rodoviários, portuários e aeroviários.
Particularmente a exploração de petróleo deverá demandar US$ 400 bilhões de investimentos até 2020. Vamos repetir a trajetória da Noruega, que não agregou valor ao produto petróleo com refinarias, porém desenvolveu uma indústria do petróleo que representa 25% do PIB do país, com uma política de incentivos ao conteúdo local
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