Os críticos de uma política industrial citam a incapacidade dos governos em perceber as tendências do setor de forma mais competente do que o mercado e citam o risco de sequestro da política por interessados poderosos do mercado. Alguns pensam que bastaria um melhor ambiente de negócios para incentivar o desenvolvimento sem participação do governo diretamente. Não há dúvida que o chamado Custo Brasil é uma bola de ferro engatada nos pés da indústria: a logística precária, a deficiência na formação dos trabalhadores, a carga tributária que penaliza cadeias mais longas como a da indústria, além do excesso de burocracia e da falta de segurança jurídica, entre outros, como chama a atenção a CNI.
Parece possível pensar em política industrial e até em um projeto para o país, que não seja restritivo à liberdade do mercado, mas que seja indicativo de tendências, que trabalhe a infraestrutura necessária e apoie iniciativas promissoras que já acontecem por todo lado no país.
Nas décadas de 1980 e 1990, o PBQP-Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade provocou um salto na indústria nacional contribuindo para o profissionalismo de produzir com qualidade, prazo, indicadores, gestão, redução de perdas, certificação e participação dos trabalhadores com a proliferação de certificados ISO-9000 e os programas de qualidade total. O papel do governo foi fomentar a formação de especialistas e de instituições certificadoras e a difusão de informações. A estrutura da norma ISO-9000(uma solução de mercado), assim como outras que sucederam, exige que as empresas certificadas cobrem os mesmos procedimentos dos seus fornecedores fazendo com que os efeitos benéficos se espalhem por toda a indústria e, aliás, pelos serviços também.
Esse efeito de cobrança em cascata acontece agora também nas exigências ESG, puxadas pelas grandes empresas, que não estão dispostas a serem criticadas ou canceladas por causa de desvios de conduta por parte de seus fornecedores nas suas ações ambientais e sociais.
Essa e outras ações, iniciadas normalmente pelas grandes empresas têm um efeito de provocar mudanças em toda a estrutura industrial do país. Uma novidade recente, vinda do mercado e também puxada pelas grandes empresas, é o processo de inovação aberta, com a constatação de que as empresas não conseguem ter as melhores pessoas nos seus quadros e pequenas empresas estão inovando em maior velocidade e comendo seus mercados pelas beiradas. Grandes empresas de todo mundo estão freneticamente lançando desafios e abrindo suas dores para o mercado e atraindo pequenas empresas inovadoras para proporem soluções. Algumas criam seus CVCs(Corporate Venture Capital), fundos próprios para alimentar essa rede de investimentos em parceiros.
Por essas ações podemos perceber que existem maneiras de mexer com a indústria do país sem necessariamente subsídios ou dirigismos governamentais. Porém, cabe bem ao governo patrocinar a pesquisa e desenvolvimento, a formação de gente, o apoio à infraestrutura tecnológica, a geração de informação e a difusão do empreendedorismo.
O apoio financeiro aos fundos de venture capital e private equity colocam dinheiro do governo não diretamente com empresas escolhidas, mas nas gestoras especializadas que terão retorno se as empresas investidas derem certo.
Na geração da base da inovação, programas como o Centelha, que busca ideias com grande potencial de se tornarem um negócio de sucesso, aportando um recurso inicial para o desenvolvimento do projeto, espalha o espírito empreendedor pela sociedade. Nessa mesma pegada , as universidades têm trocado os TCCs de final de curso por projetos de negócios inovadores e organizando concursos de projetos com os alunos que contribuem para alimentar o Centelha.
Iniciativas como essas, além de outras como aconteceu com a Onip-Organização Nacional da Indústria do Petróleo para apresentar instalações desmontadas para informação da indústria sobre peças e componentes, com o Sebrae e seus projetos de encadeamento produtivo ou o Fundo Soberano do Espírito Santo com projetos de futuro, compõem, na prática, iniciativas de política industrial no que o Presidente do Banco dos Brics, Marcos Troyjo, chamou de neoindustrialização(reindustrialização soa como volta ao passado). Esses pontos abordados aqui são apenas parte das oportunidades e parte do que poderia ser uma política industrial, mas aportar recursos do governo em iniciativas que já estão funcionando ou que mostraram resultados, sem reinventar a roda, é sempre boa política.
https://es360.com.br/coluna-inovacao-acoes-praticas-para-a-neoindustrializacao/