As baixarias na política, ou pela política, atingiram níveis mais profundos que o fundo do poço, onde o governo ainda continua cavando. Sempre soubemos que a política é a arte da conversa. Temos de gastar saliva para construir consensos ou encaminhar acordos. Não se imaginou que alguém usaria literalmente a saliva para argumentar, no plenário da Câmara ou em restaurantes, com cusparadas nada republicanas. Um cínico diria que isso é um avanço. Em outros tempos a coisa se resolveria no tapa. Mas um canibal comendo de garfo e faca também pode ser um avanço. Por falar em canibal, o deputado que levou a cusparada – nada justifica essa baixaria – , dedicou seu voto ao torturador da ditadura, apesar de tortura ser crime contra a humanidade segundo a ONU. Na ONU quase acontecia uma baixaria diplomática, com uma presidente desnorteada aproveitando evento do clima para expor sua visão nebulosa sobre o clima pesado de Brasília, onde houve um festival de baixarias na votação do impeachment. Votos dedicados à família, igreja e “tchau, querida” de um lado – pelo menos algo do mundo real – , enquanto, do outro lado, votos enfáticos e mentirosos contra o fim dos programas sociais ou farsas sexistas e manifestações raivosas contra o ladrão de milhões, na tentativa esperta e ruidosa de fazer todo mundo esquecer do chefe da quadrilha de bilhões. Por falar nele, baixarias gravadas mostram uma visão deturpada das instituições e mulheres do grelo duro. Imediatamente, companheiras aparentemente descerebradas justificaram, nas redes sociais, para espanto geral, a expressão do grande líder. Nas redes as baixarias são de todo tipo: homofóbicas, racistas, misóginas ou fascistas, no sentido pouco intelectual usado para caracterizar quem quer dar porrada nos outros na rua, onde as baixarias acontecem na casa dos políticos à esquerda ou à direita. Um político cearense renovou a sua tradicional elegância expulsando manifestantes de frente de casa aos gritos e palavrões. Aliás, gritos e palavrões ecoam no palácio presidencial, segundo as revistas semanais, supostas protagonistas de golpes midiáticos, segundo governistas deficientes em matemática. Eles acham que o país está dividido ao meio com 80 a 20. Esses 20 prometem mais baixaria quando saírem do poder daqui a pouco, ameaçando incendiar o país com os recursos públicos que recebem. A Miss Bumbum iria na frente, de porta estandarte, com a bandeira vermelha. Abundantes baixarias. Os outros 80, de verde e amarelo, querem ouvir Galvão Bueno, aos berros, narrando o voto final do impeachment dia 11: Acaboou! Acaboou!
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente.
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