Os governos têm de ser reinventados

Quando ele se levanta, tremem as ondas do mar, as vagas do mar se afastam. Se uma espada o toca, ela não resiste, nem a lança, nem a azagaia, nem o dardo. O ferro para ele é palha, o bronze pau podre. Assim é descrito na Bíblia o Leviatã, monstro que deu o título ao livro de Thomas Hobbes, cientista político do século XVII, onde ele conceituou a organização do Estado Nacional construído no lugar das cidades-estado pelos príncipes europeus. Essa organização lhes trouxe vantagens em relação ao resto do mundo e tinha por motivação garantir a lei e a ordem sem as quais, segundo Hobbes, todos guerreariam permanentemente entre si. O Leviatã passou a ser o símbolo desse Estado Nacional e caracteriza a 1ª revolução na organização do Estado, descrito no excelente livro “A 4ª revolução – a corrida global para reinventar o Estado” de John Micklethwait e Adrian Wooldridge.

A 2ª revolução, no século XVIII, teve como símbolo a liberdade. A revolução francesa acabou em carnificina, a revolução americana aconteceu longe, mas a grande mudança ocorreu na Inglaterra, que priorizou a eficiência, a meritocracia, a livre concorrência e a liberdade. Na 2ª metade do século XIX começou-se a questionar esse Estado: “De que servia a liberdade a um trabalhador que não tinha acesso à educação nem à assistência médica?”

Surge então a 3ª revolução, o Estado do bem-estar social na Europa ocidental e nos EUA e que foi o mote para a experiência fracassada do comunismo. O forte crescimento do Estado e da burocracia e a disparada de gastos públicos e impostos levou a que muitos países tenham hoje dívida pública altíssima, déficits orçamentários e  governos ineficientes.

Chegou a hora da 4ª revolução que já acontece em alguns países.

De um lado, na Ásia, o modelo de Cingapura questiona princípios básicos do ocidente como a democracia e o governo generoso, mas reforça a liberdade comercial, a meritocracia e a educação de alto nível e inspira outros países da região, inclusive o capitalismo de Estado na China. Conseguirão sustentar as pressões pela liberdades individuais?

De outro lado, nos países nórdicos e outros, a redução do tamanho do Estado, com privatizações e inovações inclusive na educação e saúde.

A 4ª revolução aborda muitos temas: o poder da tecnologia para oferecer melhores serviços, a busca de ideias inteligentes em todo o mundo, o descarte de práticas trabalhistas ultrapassadas e a redução das desigualdades. Mas trata principalmente da reanimação do espírito da liberdade e da democracia, enquanto atenua os encargos do Estado.

O Leviatã tem que ser domesticado.

Evandro Milet

Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente. 

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