Nova ordem das coisas

No conto “Resposta” de 1954 , de Fredric Brown, autor norte-americano de ficção, cientistas conectam todos os computadores da totalidade dos planetas habitados do universo  a um supercomputador capaz de combinar o conhecimento integral de todas as galáxias. Em seguida, um cientista formula ao computador uma pergunta que nenhuma outra máquina tinha sido capaz de responder: Deus existe? Ao que o computador responde sem hesitação: Sim, agora existe. Apavorado, o cientista tenta desligar a chave, mas é fulminado por um raio caído de um céu sem nuvens.

Desde que a internet evoluiu de um projeto do Departamento de Defesa baseado em uma rede de computadores para a atual rede de pessoas, ela é ainda quase totalmente dependente das pessoas para gerar as informações. As pessoas porém tem atenção, tempo e precisão limitadas e não são boas opções para captar informações das coisas do mundo real. A próxima onda da internet vai modificar esse ambiente. A internet das coisas(internet of things) ou melhor, a internet de tudo(internet of everything) vai conectar, ou já está conectando na rede, os objetos munidos de sensores ou atuadores, isto é, chips minúsculos com capacidade de processar e comunicar informações pelas onipresentes redes sem fio como já faz, de modo incipiente, a bola de futebol para decidir se ultrapassou ou não a linha do gol.

Podemos começar a ver produtos vencidos interagindo com os usuários alertando-os para não serem comprados, câmeras de vigilância identificando carros roubados e dando ordens de interceptação, chips comandando ações na saúde embutidos em pílulas deglutíveis ou em objetos vestíveis, controlando o fluxo de veículos, administrando aparelhos domésticos ou gerenciando operações nas fábricas. Câmeras de vigilância começam a ser capazes de interpretar as imagens percebendo, por exemplo, que, se as pessoas repentinamente levantam as mãos pode estar ocorrendo um assalto ou, pela movimentação das pessoas, podem descobrir quem é o líder de uma comunidade. A chamada web semântica é a rede capaz de se comunicar em linguagem natural, assim como pode aprender com as interações com pessoas e coisas. Nessa nova internet, as coisas podem realizar ações pela sua própria iniciativa, eliminando a mediação humana a que estamos acostumados.

A ficção científica convive com discos voadores, robôs, viagens interplanetárias, máquinas do tempo ou supercomputadores falantes, mas pouco visualizou que todas as coisas pudessem ser dotadas de inteligência, por não conseguir prever a exponencial miniaturização e a explosiva capacidade dos chips. A fantasia dos contos infantis foi mais precisa. Lá os objetos falam, pensam e se comunicam como o espelho da madrasta da Branca de Neve, as louças em a Bela e a Fera ou as cartas do baralho em Alice no País das Maravilhas. Há previsões que, em 2025, um trilhão de objetos poderão estar conectados na internet. Quero o meu para-raios!

Evandro Milet

Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos

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