Uma festa surreal

 

O surrealismo foi um movimento caracterizado pela expressão do pensamento apenas pelos impulsos do subconsciente, desprezando a lógica e renegando os padrões de ordem moral e social. É como se alguém fizesse discursos desconexos, juntando cachorro com criança ou estocando vento. Ou quando algum político diz que foi traído, sem nominar os traidores e depois diz que o mensalão nunca existiu.

Surreal significa algo estranho, absurdo, que não corresponde à realidade. Como um presidente de conselho de administração desconhecer roubos bilionários na sua gestão ou presidente da Câmara negar o próprio dinheiro com assinatura.

 

André Breton, no Manifesto do Surrealismo, declara a possibilidade de reduzir dois estados contraditórios, sonho e realidade, “a uma espécie de realidade absoluta, de sobre-realidade (surrealité)”.

Segundo esse movimento, as ideias de bom gosto e decoro devem ser subvertidas. Como um deputado levantar um punho fechado contra um magistrado para ser preso em seguida. Ou quando o guerreiro do povo brasileiro pede contribuições para pagar multas tendo milhões na conta.

O filme “O anjo exterminador”, do cineasta espanhol Luis Buñuel, como outros dos seus filmes, mistura real e imaginário, com marcantes cenas surrealistas.

O filme conta a história de uma festa, onde os ricos convidados não conseguem deixar o local, por uma razão inexplicável. Não há nada físico que os impeça de sair, apenas portas e grades imaginárias.

Com a chegada dos convidados, os empregados começam a ir embora, sem motivo aparente. Saem apressados, como se algo de muito ruim estivesse prestes a acontecer e eles não pudessem presenciar. Lembra as primeiras defecções do PT, quando pessoas do bem começaram a notar caminhos estranhos na legenda.

Quando percebem, algum tempo depois do final da festa, que não conseguem deixar a casa, as máscaras sociais caem, as pessoas se mostram como realmente são. Desentendimentos, acusações e até mortes acontecem. Alguns revelam segredos íntimos, perdendo a compostura e mostrando a falsidade de cada pessoa. Como quando o Presidente do PT, covardemente, nega solidariedade a um companheiro apanhado em flagrante enquanto enaltece condenados, ou  quando apoia e ataca o governo ao mesmo tempo.

Tudo lembra a chegada de um antigo partido, paladino da integridade, à festa do poder, onde a moral antes condenada passa a ser a nova moral, com roubos, pedaladas, traições, mentiras e tenebrosas transações. Portas e grades ideológicas, que ninguém mais enxerga porque não existem mais, cercam os escombros de um sonho. A festa está chegando ao fim.

 

Evandro Milet

Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos

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