“Rato, rato, rato!” Ao ouvir esse grito no Rio de Janeiro no período entre 1903 e 1907, a população corria para matar ratos e entregá-los ao “ratoeiro”. Esse funcionário pagava pelos ratos e os revendia para o governo. A ideia do sanitarista Oswaldo Cruz tirou de circulação mais de 1,6 milhão desses animais, debelando uma epidemia de peste bubônica. Com a demanda, a malandragem carioca passou a criar ratos em gaiolas e a importar ratos de outras cidades para vender para o governo. Claro que a história virou tema de carnaval.
Sempre que o governo oferece benefícios por algum motivo, tem sempre um esperto para dar um jeito de se habilitar sem ter direito. Desse modo, velhos se casam com meninas novas que recebem pensão pelo resto da vida e trabalhadores pedem para ser demitidos e pegar o seguro desemprego. Fraudes no bolsa família são noticiados frequentemente, bem como pessoas saudáveis se aposentando por invalidez ou caucasianos se passando por negros para conseguir cotas nas universidades.
Ficaram famosas as fraudes nos financiamentos da Sudam, da ordem de bilhão, que levaram à renúncia do então deputado Jáder Barbalho e à sua prisão algemado. Uma das fraudes envolveu um ranário(criação de rãs, não de ratos), projeto da esposa do deputado. O golpe foi apelidado de fraude transamazônica.
Em 2014 foram concedidos benefícios do seguro defeso a 883 mil pessoas, mais de três vezes o número de pescadores artesanais cadastrados pelo censo de 2010. O ministro Levy disse que era um caso bíblico, não com a multiplicação dos peixes, mas dos pescadores.
Situação semelhante ocorre com a Justiça do Trabalho, onde juízes dão ganhos de causa aos trabalhadores em situações sem fundamento, gerando oferta de dinheiro. A demanda logo aparece com uma enxurrada de causas insufladas nos ouvidos dos trabalhadores por advogados espertos. Isso desestimula a contratação de pessoas e causa o inevitável repasse desse custo para os preços.
A oferta de benesses se generalizou também na meia entrada para tudo. Das onipresentes carteirinhas de estudante adulteradas, que sustentam associações de estudantes, até demandas esdrúxulas. Em Campinas, os restaurantes são obrigados a dar desconto de 50% para as pessoas que tenham feito cirurgia bariátrica. Afinal, a metade dos pratos sobrava. Em Mato Grosso todo cidadão que comprovar gagueira, poderá pagar apenas 50% da conta de ligações no aparelho celular. Como justifica um estudante: “Eu evito usar o celular, porque as pessoas sempre pedem pra eu repetir o que acabei de falar. Acabo pagando em dobro”. Pensando bem, é justo.
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos
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