A uberização da economia

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No século XVIII correu a Europa o Turk, um autômata, máquina capaz de jogar xadrez, que derrotou, no seu trajeto, figuras históricas como Napoleão Bonaparte e Benjamin Franklin. Depois descobriu-se que, dentro da máquina, escondido, ia um mestre do xadrez.

Em uma analogia com essa história, a Amazon lançou o serviço Amazon Mechanical Turk, um mercado de trabalho por demanda, onde tarefas que máquinas ainda têm dificuldade de executar são feitas por pessoas na rede, remuneradas por tarefa. Exemplos de tarefas são: atribuir um rótulo que melhor descreva um grupo de frases extraídas de um artigo técnico, comparar resultados de pesquisa para decidir qual é o melhor, escrever perguntas e respostas a partir de imagens ou verificar se um produto  está retratado em uma imagem.

Outros tipos de serviços estão sendo oferecidos por demanda, executados por pessoas sem vínculo trabalhista e gerando uma onda de questionamentos e tentativas de enquadrar essas atividades no modelo padrão de relacionamentos.

Um desses alcançou nível mundial em polêmica. O Uber, inicialmente lançado como plataforma para usuários oferecerem caronas remuneradas nos seus próprios veículos, se transformou em serviço profissional prestado por motoristas cadastrados, sem vínculo trabalhista ou licença. Taxistas em Paris, Nova Iorque, Rio e São Paulo, estão em pé de guerra com esse concorrente não oficial.

Outro serviço, o Airbnb, oferece aluguel de residências em 190 países e compete com hotéis e pousadas, também sem licenças oficiais em muitos lugares, gerando outra polêmica global.

A economia On-Demand é definida como a atividade econômica criada por empresas de tecnologia que suprem uma demanda do consumidor através do provisionamento imediato de produtos e serviços. Nessa toada é lançado, entre outros, um aplicativo com o sugestivo nome de Muamber, para conectar quem viaja com quem precisa trazer coisas do exterior.

Marx disse que o mundo se dividiria entre aqueles que deteriam os meios de produção e os que trabalhariam para eles. Nesse caso, parece que o mundo se divide entre os que têm dinheiro e uma necessidade e os que têm tempo ou um bem ou serviço não plenamente utilizado. A economia On-Demand oferece os meios para que esses dois grupos interajam.

Atualmente 53 milhões de americanos trabalham como free-lancers e 40% da força de trabalho pode estar assim em 2020 – e essa tendência se espalha pelo mundo. Alguns temem a precarização do trabalho enquanto outros festejam a liberdade de trabalhar no tempo e horário que quiserem. Aguardemos a resultante desses movimentos.

Evandro Milet

Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos

Twitter: @ebmilet     Email: evandro.milet@gmail.com