Recentemente uma pessoa criativa apresentou um software que controlava a emissão de atestados médicos, impedindo assim a fraude de faltas ao trabalho por conta de atestados falsos. Apesar do mérito da iniciativa, por que simplesmente não se pune exemplarmente quem emitir tais atestados, evitando-se mais uma parafernália digital de controle?
Quem já viajou por estradas em outros países percebeu que não há pardais tocaiados em curvas, de quilômetro em quilômetro, como atualmente nas estradas brasileiras. É quase impossível viajar sem receber multas algum tempo depois, ainda mais que as velocidades podem ser 40, 50, 60, 80 ou 110 km/h. Infelizmente, essa é a solução encontrada para reduzir mortes em estradas, com a vantagem de arrecadar uma boa grana. Por que não há pardais lá fora? Porque as pessoas respeitam e, se atropelarem ou matarem alguém, o prejuízo financeiro será imenso com indenizações, além de prisão. Nas estradas lá não existem as surreais placas “Respeite a sinalização” das nossas estradas.
Também lá fora não se vê blitz de lei seca escondida em pontos obscuros e esquinas. Também lá não se pode dirigir e beber, mas quem provocar um acidente e tiver bebido vai em cana sem perdão e sem jeitinho.
A televisão apresenta cenas de eleições em países democráticos e desenvolvidos, onde o voto em papel nos parece uma coisa ridícula, gerando manifestações patrióticas pelo nosso avanço tecnológico. Por que países muito mais ricos e tecnologicamente muito mais avançados que nós não implantaram urnas eletrônicas? Certamente porque não precisam, pois uma fraude eleitoral seria um crime com punições exemplares.
Temos catracas eletrônicas controlando funcionários, pregões eletrônicos, radares, caminhões rastreados por satélite, bancos mais informatizados que os americanos ou europeus – herança de uma época de hiperinflação -, um sistema de arrecadação de impostos que cruza tudo com tudo e notas fiscais eletrônicas. Ninguém negocia com governo sem apresentar suas certidões – emitidas eletronicamente – comprovando estar quites com todas as instâncias.
Com tudo isso, vemos todos os dias pessoas que matam no trânsito e ficam soltas, fraudes fiscais enormes sem prisões, funcionários fantasmas, caminhões que desaparecem misteriosamente nas estradas e candidatos horrorosos eleitos com apurações instantâneas. Temos saidinhas de banco, explosões de caixas eletrônicas, empresas dando canos sem punição, fornecedores desqualificados, compras superfaturadas ou desnecessárias pelos governos, e por aí vai.
Enfim, a bagunça é a mesma, mas a sofisticação….
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos
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