A personalidade mais extravagante, carismática e genial do mundo digital foi certamente Steve Jobs, criador da Apple, falecido precocemente em 2011 aos 56 anos.
Ele acreditava que sua geração era diferente porque “o vento idealista dos anos 60 ainda sopra atrás da gente, e a maioria das pessoas da minha idade tem essa coisa entranhada para sempre”.
Segundo Bill Gates, concorrente mais bem comportado, ele nunca entendeu muito de tecnologia, mas tinha um instinto espantoso para saber o que funciona. O primeiro microcomputador pessoal, o revolucionário MacIntosh, iPod, iTunes, iPhone e o iPad, além dos maravilhosos desenhos animados da Pixar, são efeitos de uma mania obsessiva de perfeição que visava sempre colocar no mercado coisas insanamente grandiosas que deixassem uma marca no universo – nas suas próprias palavras.
Tirando uma imagem da série Guerra nas Estrelas, funcionários da Apple diziam que ele tinha uma campo de distorção da realidade, capaz de convencer as pessoas a fazer coisas aparentemente impossíveis, que o fazia tão esquisitamente carismático que as pessoas quase precisavam ser desprogramadas depois de falar com ele. Sobre isso, ele mesmo citava Alice no País dos Espelhos de Lewis Carrol: “Quando Alice diz que por mais que tente não consegue acreditar em coisas impossíveis, a Rainha Branca retruca: Nossa! Pois eu às vezes acredito em seis coisas impossíveis antes do café da manhã.”
Personalidade mercurial, com mudanças de humor que espalhavam medo nos seus funcionários, era capaz de demitir alguém dentro do elevador ou achar idiota uma ideia apresentada por alguém em um dia e, uma semana depois, aparecer com a mesma ideia como se fosse sua.
Jobs mantinha rédea firme na contratação de pessoas, sempre buscando gente criativa, muito inteligente e ligeiramente rebelde. Na entrevistas fazia perguntas esdrúxulas como: “Com que idade você perdeu a virgindade? ” ou “Quantas vezes tomou LSD?”, para ver como o candidato se saia em situações embaraçosas. E só tinha duas classificações: a pessoa era genial ou um idiota.
Embora cidadão do mundo digital, Jobs era um entusiasta de encontros ao vivo e da sinergia do imenso parque tecnológico em volta da Universidade de Stanford: “Existe uma tentação em nossa era digital de pensar que as ideias podem ser desenvolvidas por email. Loucura. A criatividade vem de encontros espontâneos, de conversas aleatórias. A gente encontra alguém por acaso, pergunta o que anda fazendo, diz uau e logo começa a borbulhar todo tipo de ideia.”
É isso aí: um parque tecnológico é fundamental para uma cidade inovadora.
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos
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