Steve Jobs, criador da Apple, costumava citar Leonardo da Vinci: “A simplicidade é a máxima sofisticação”. E completava: “Tecnologia sozinha não é suficiente – é a tecnologia, casada com artes e humanidades, que criam o resultado que nos encantam.”
No dia 10/05/2015 abordei aqui a ênfase norte-americana na educação das áreas STEM(da sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática). Em recente artigo porém, no jornal Washington Post, o colunista Fareed Zakaria demonstra preocupação com essa ênfase excessiva. Discursos do Presidente Obama e de políticos republicanos questionam a conveniência de formação em história da arte ou antropologia, considerando a maior importância das carreiras científicas e tecnológicas para a criação de empregos e a concorrência no mundo globalizado.
A divulgação de testes feitos com alunos para medir a proficiência em matemática e ciências, como o PISA, que colocam os EUA em 21º lugar no geral entre 34 países da OCDE, criaram uma verdadeira obsessão nacional.
Inovação porém, não é apenas um assunto técnico, mas implica em entender os desejos e as necessidades das pessoas e propor soluções que formarão o conteúdo que será envelopado pela tecnologia. Mark Zuckerberg, criador do Facebook, chegou a se formar em psicologia. Ele dizia que o Facebook era tanto psicologia e sociologia como era tecnologia.
Mas – Zakaria continua -, apesar de sempre, desde 1964, não ter ido bem nesses testes, os EUA compensam com criatividade, pensamento crítico e autoconfiança que deságuam em um empreendedorismo que assume riscos e aceita falhas. Esse perfil e uma educação mais liberal e abrangente, ao contrário da educação asiática, mais centrada em memorização e testes, fizeram com que os EUA dominassem o mundo da tecnologia em todo esse período.
As indústrias antigamente apenas fabricavam produtos. Hoje elas se preocupam com design, marketing e redes sociais. Você pode fabricar um tênis em qualquer lugar, mas só conseguirá vendê-lo por 300 dólares se conseguir associar uma história ao produto ou à marca. Da mesma forma, toda a fantástica indústria do entretenimento norte-americana, bem como até a televisão brasileira, foram construídas com histórias, música, design e criatividade e requerem perfis que vão muito além daqueles oferecidos por cursos STEM.
Toda a discussão sobre economia criativa e o crescimento da sua importância em todo o mundo, fortalecem a ideia de que a formação nas áreas STEM, mesmo bastante deficiente no Brasil, não deve ser incentivada em detrimento das boas escolas de humanidades e artes.
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos
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