Duas imagens podem ser feitas com caranguejos: andando de lado ou evitando que o outro saia do balaio. As duas podem ser usadas no ambiente tecnológico do Espírito Santo.
Apesar das pessoas gabaritadas que conduziram ou conduzem as políticas do setor, não se consegue um avanço significativo, apesar de algumas iniciativas exitosas e algumas poucas ilhas de excelência. Sem consenso sobre os caminhos a serem seguidos, o setor perde para outras prioridades relevantes por absoluta falta da percepção da importância do tema para o nosso futuro. O documento ES2025 não abordava o tema e o ES2030 fala platitudes a respeito.
Nesse momento, um projeto fundamental para colocar o estado no mapa da inovação no país, um Parque Tecnológico, à semelhança de outros estados, e que finalmente conseguiu resolver pendências burocráticas, fica ameaçado pela falta de recursos prometidos.
Alguns desavisados argumentam que hoje tudo seria feito na internet e não haveria necessidade de que um ecossistema de inovação exigisse locais físicos. Só quem nunca participou do desenvolvimento de projetos tecnológicos de porte ou que não lê as histórias das grandes empresas do Vale do Silício desconsidera a sinergia provocada pela proximidade física e pelo relacionamento informal entre técnicos.
Infelizmente, ainda pairam dúvidas em cabeças importantes do governo estadual sobre a necessidade de um Parque Tecnológico na região de Goiabeiras em Vitória, onde existe local definido, ao lado da Universidade, como acontece em todos os lugares que dispõem desse equipamento. É assim em Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre ou no Vale do Silício com a Universidade de Stanford. A concentração de empresas, técnicos e pesquisadores cria o caldo de cultura da inovação e atrai grandes empresas com seus centros de pesquisa. Daqui a 30 anos, se aquele espaço estiver ocupado por prédios residenciais decadentes, alguém lamentará que trocamos massa cinzenta por IPTU.
Outra caranguejada ameaça a Tecvitória, incubadora pioneira no Espírito Santo, criada há 20 anos. Ela funciona em galpões da Ufes, uma das suas fundadoras, junto com o Governo do Estado, o Bandes e a Prefeitura de Vitória. Além de incubar empresas nascentes de alta tecnologia, a instituição opera um escritório de projetos que já captou volumosos recursos financeiros para projetos de empresas capixabas, inclusive algumas voltadas para o setor de petróleo e gás.
Seria lamentável se a cobrança excessiva de aluguel pela Ufes ou a redução do apoio financeiro recorrente da Prefeitura de Vitória puxassem a perna desse projeto de sucesso.