Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, mostrou que 81% dos manifestantes no dia 15/3 na Av. Paulista concordam que a democracia é “melhor que qualquer outra forma de governo” e apenas 12% avaliam que “em certas situações é melhor uma ditadura”.
Esses números desmoralizam a má-fé de tentar associar as manifestações à volta do regime militar, da mesma forma que pesquisas mostrando a baixa popularidade da Presidente acabam com as histórias de elite branca e varandas gourmet.
Para a minoria que ainda pensa na volta dos militares vale recordar as circunstâncias da época e o que foi a ditadura.
Em 1964, o clima era de greves e crise política desde a renúncia de Jânio Quadros que colocou João Goulart no poder. A ascensão de Fidel Castro em Cuba fazia apenas cinco anos, a crise dos mísseis em Cuba, entre EUA e União Soviética em 1962, quase provocara a terceira guerra mundial e a possibilidade de uma revolução socialista se espalhando pela América Latina parecia real. A política externa norte americana ficou paranoica.
Projetos de esquerda assustavam empresários enquanto incendiários dos dois lados, como Brizola e Lacerda, acirravam os ânimos. A economia se deteriorava com inflação em 70% em 1963, sargentos se rebelavam na hierarquia militar com apoio do governo e a grande imprensa apoiava abertamente um golpe. Os governadores de São Paulo, Rio e Minas e empresários se aliaram aos militares e, já com o apoio da classe média, não havia mais como segurar o movimento.
Hoje o clima é completamente diferente. As instituições estão muito mais sólidas, o nível de educação muito maior, a guerra fria acabou, Cuba é inexpressiva e mídia, políticos, empresários e classe média sabem agora que a ruptura democrática nunca é rápida como pensavam naquele tempo(o poder é inebriante) e pode engolir a todos, como aconteceu.
As arbitrariedades praticadas com 10 mil exilados, 4.682 cassados, milhares de presos políticos, centenas de mortos e desaparecidos vacinaram quase todos contra ditaduras militares. Artistas foram perseguidos, cientistas ilustres exilados, centros de pesquisa arrasados, professores demitidos, 245 alunos expulsos na USP, UFRJ, Fiocruz, UnB, UFMG e Ufes entre outros e se implantou a censura, a delação inclusive com vinganças pessoais e depois a tortura e a eliminação física.
A descontinuidade democrática e o vácuo da formação de novas lideranças políticas por 21 anos provocou uma disputa final na primeira eleição direta em 1989 entre Collor e Lula, onde a população vislumbrou novidades salvadoras.
Deu no que deu. Pagamos por isso até hoje.