Na época da hiperinflação uma piada dizia que era mais barato andar de táxi do que de ônibus, porque o ônibus se paga no início e o táxi no fim da corrida. Quem viveu esse período guarda uma memória inflacionária difícil de apagar, ainda mais contando que mecanismos de indexação da economia persistem.
Alguns ainda defendem manter um pouquinho de inflação e preservar gastos do governo, na suposição que gerarão desenvolvimento. Esse pensamento provocou a crise atual e bancou a inflação batendo no teto da meta.
Inflação alta tem efeitos colaterais além da carestia. Gera frequentes demandas por aumentos de salário que podem tomar a forma de greves mais ou menos violentas. Grandes aumentos, principalmente após represamento artificial de preços, como agora no combustível, provocam bloqueio de estradas por caminhoneiros e quebra-quebra de ônibus, pelo inevitável aumento de preço das passagens. Esse represamento provocou ainda o lamentável estrago no programa do etanol, um desserviço ao país(e ao mundo).
Para controlar a inflação o Banco Central tem que subir os juros para conter a demanda, reduzindo o consumo e afetando a indústria e o comércio. Com inflação alta as pessoas perdem o referencial de preços, reduzem o poder de barganha e não percebem aumentos desproporcionais.
Juros altos aumentam o custo de capital, o que encarece os investimentos, reduzindo a competitividade das empresas na exportação. Também retiram recursos de investimento produtivo e incentivam aplicações financeiras não produtivas. Frequentes subidas de preços aumentam também o custo de administração das empresas para controlar margens e refazer cálculos.
A inflação em 2014, pelo IPCA, foi de 6,41%, porém foi de 8,5% nos serviços. Sem concorrência externa, esse setor tem mais flexibilidade para aumentar preços e pagar maiores salários. A correia de transmissão automaticamente equipara salários na indústria enquanto, do outro lado, as importações impedem o repasse para os preços. O efeito é recessão e desemprego. Como a indústria é quem mais investe em tecnologia e inovação, a crise obriga a cortes que afetarão o futuro do país.
A imprevisibilidade aumenta, reduz a confiança na economia, dificulta calcular valor de ativos, prever retorno a longo prazo e afugenta capitais.
A leniência com um pouquinho de inflação no teto da meta é perigosa, considerando ainda que a meta deveria ser reduzida ano a ano e causa problemas além do aumento de preços. O sucesso alcançado com o fim da hiperinflação colocou o Brasil na rota do crescimento e da distribuição de renda. Não podemos retroceder.