De que altura ficaria uma folha de papel dobrada 50 vezes? Você não vai acreditar, mas teria uma altura aproximada de 100 milhões de quilômetros (a distância da Terra ao Sol é de 150 milhões de quilômetros)! Todos os dias somos confrontados com a nossa deficiência de lidar com a matemática. Apostamos na mega sena com uma chance em 50 milhões e com isso pagamos um imposto por não saber fazer contas. Aliás, pelas estatísticas registradas na cidade de Campinas, a probabilidade de ser atropelado no caminho para a casa lotérica é “consideravelmente maior” do que a de acertar as seis dezenas do sorteio. Pagamos juros exorbitantes em prestações também por não conseguir fazer contas. Também não acreditamos que uma amostra de 3000 pesquisas consiga cravar o resultado de uma eleição nacional (fora as manipulações, é claro) porque nunca conhecemos alguém que tenha sido entrevistado.
Certa vez, em uma palestra, um dirigente de um órgão nacional de arrecadação se vangloriava do próprio trabalho, mostrando seqüencialmente que a arrecadação, estado por estado, havia crescido acima da média daquele ano. No décimo estado seguido citado, perguntei, de brincadeira, se a meta seria que todos os estados tivessem crescimento de arrecadação acima da média, com o que ele imediatamente concordou entusiasmado, para espanto dos poucos que perceberam a impossibilidade matemática.
Tudo bem que a matemática provoca situações estranhas como o caso onde eu como dois frangos e você não come nenhum embora, na média, cada um coma um frango. Em outra esquisitice, se a bolsa de valores cair 50%, para voltar onde estava ela terá que subir 100%. Ou a piada do sujeito que sempre levava uma bomba quando entrava em um avião porque lhe disseram que a probabilidade de haver duas bombas no mesmo avião seria muito pequena. A pouca familiaridade com a matemática cria enormes oportunidades para a manipulação de dados e por isso, um cínico já disse que estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem.
Fora brincadeiras, a rejeição que a matemática provoca em grande número de estudantes pode ser profundamente perigosa para o país. Provavelmente o apagão de engenheiros que teremos nos próximos anos tem a ver com essa rejeição e o conseqüente péssimo desempenho dos jovens nas provas de matemática das avaliações domésticas e internacionais, como o recente resultado do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) onde o Brasil, em 2009, mesmo tendo avançado em relação a 2006, ficou em 53º lugar em matemática entre 65 países.
O Pisa busca medir a realização de operações básicas, raciocínio e as descobertas matemáticas mediante o uso de conteúdos matemáticos como estimativa, mudança e crescimento, espaço e forma, raciocínio quantitativo, incerteza, dependências e relações. Todas estas noções são fundamentais para qualquer desenvolvimento profissional e mesmo para cada cidadão viver o dia-a-dia.
E onde está o problema, então? Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), vai ao ponto: “Se a língua portuguesa é um componente de cultura geral, que as crianças podem obter junto à família, a matemática requer um estudo sistemático, que só as escolas podem dar”. Dessa forma, explica, “os baixos resultados de matemática mostrariam a dificuldade que as escolas encontram em transmitir um conhecimento mais formal e sistematizado, que seria uma de suas funções centrais”.
É fundamental um esforço sem precedentes para a capacitação de professores com o preparo necessário para transformar o ensino de matemática em algo interessante e prazeroso para os estudantes.
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