Caetano cantou em Vaca Profana: Dona das divinas tetas/Derrama o leite bom na minha cara/E o leite mau na cara dos caretas. Esse poderia ser um hino ao clientelismo e ao patrimonialismo, instituições arraigadas nos costumes brasileiros, onde a coisa pública é vista como grandes tetas a serem sugadas. Muitos sindicatos, corporações, associações, funcionários, empresários e outros participam de um jogo de duas mãos com instituições públicas, cobrando ou oferecendo benesses em troca de votos, apoio político ou mesmo dinheiro para o próprio bolso. Os instrumentos são variados: mordomia, subsídio, licitação fajuta, equiparação, auxílio-moradia, meia-entrada, cartel, similar nacional, fura-fila, incorporação de benefício, nepotismo, venda de sentença e nomeação sem mérito. Porém a vaca profana tem chifres e revida com impostos, taxas, contribuições, inflação, câmbio, depósitos compulsórios, burocracia e mudanças de legislação.
O compromisso com resultados baseados em indicadores e metas já faz parte da gestão das empresas de sucesso e deveria se tornar prática obrigatória na área pública. A estabilidade para funcionários, com bons salários e aposentadorias integrais, também dificulta a cobrança de resultados e prazos. Quem conhece a área pública concordaria que a competência de funcionários obedece a uma curva normal da estatística onde uns 30% são dedicados e diligentes servidores públicos, outros 30% poderiam ser dispensados sem ninguém notar e os 40% restantes poderiam ser aproveitados se houver liderança e gestão baseada em profissionalismo e meritocracia.
Outros problemas colaboram também para colocar o Brasil nos últimos lugares em rankings de “ambiente de negócios”, para desespero dos empresários sérios e desmotivação dos investidores estrangeiros, que escolhem outros locais menos complicados para gerar empregos e investir seus recursos de bilhões de dólares.
Aberrações jurídicas, que seriam cômicas se não fossem trágicas, principalmente na área trabalhista, contribuem para a insanidade, como a que faz auxiliares de enfermagem pararem atendimentos ou repórteres de televisão interromperem entrevistas no exato horário do almoço e correrem para bater ponto e evitar demandas trabalhistas.
Ou o impedimento de terceirização de atividades-fim, com base em súmula do TST, que reduz a produtividade, negando a especialização que ocorre nos países onde o ambiente de negócios facilita a criação de empregos.
Um ambiente de negócios saudável, facilitador da geração de empregos cada vez de mais alto nível, ainda é o melhor programa social que pode ser feito.
Sobre o autor:
Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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