O Vale do Silício

Em uma tarde quente de verão de 2002, em San Francisco, Noah Glass, que tentava montar um projeto de rádio pirata, folheando uma revista Forbes, viu uma foto de Evan Williams, fundador do Blogger, uma startup que começava a fazer sucesso. Para sua surpresa, ao fundo na foto aparecia uma janela por onde se avistava, no prédio vizinho, uma cozinha que ele percebeu que era do seu próprio apartamento. Ele abriu a janela da cozinha, gritou pelo vizinho e ali começou uma grande amizade. O Blogger foi vendido à Google logo em seguida, Evan ficou milionário e junto com Noah e outros amigos criaram o Twitter.

Quando Steve Jobs e Steve Wosniak montaram o revolucionário computador pessoal Apple II, na garagem de casa, contactaram alguns investidores anjo, até conseguir um que os apoiaram.

Essas histórias simbolizam um pouco o que é o ecossistema de inovação do Vale do Silício, berço de inovações espetaculares como o circuito integrado e o microprocessador e que floresceu ao redor da Universidade de Stanford, local de formação de inúmeros engenheiros e empreendedores e de muitas startups de sucesso.

A grande oferta de engenheiros de software e hardware, a disponibilidade de investidores anjo, fundos de venture capital e de private equity, o espírito empreendor da sociedade, a existência no ambiente de grandes empresas de sucesso como Intel e HP e a proximidade física de todos esses atores, que se encontravam em cafés e restaurantes – ou se viam pela janela -,criaram esse caldo de cultura.

No ritmo frenético de trabalho para um novo lançamento na Apple, a equipe mandou fazer camisas com a inscrição “Trabalhando 90 horas por semana e adorando”. Por aqui a justiça do trabalho impediria a Apple de funcionar.

É muito difícil recriar esse ambiente em outro local, embora muitos tentem. A existência de investidores de risco decorre, em parte, das baixas taxas de juros pagas pelos bancos americanos, diferente do que acontece no Brasil, o que motiva a busca por maiores retornos.

Nos Estados Unidos a facilidade de abrir negócios e conseguir financiamento é complementada pelo espírito empreendedor, pela flexibilidade das leis trabalhistas e pela cultura de entender o fracasso de uma empresa como normal, sem que isso manche a vida do empresário.

Esse sistema em rede, sem coordenação, praticamente sem participação de governo(embora alguns projetos tivessem origem no Departamento de Defesa) inspira a criação de parques tecnológicos e incubadoras de empresas em todo o Brasil, mas precisaremos, sem dúvida, por muito tempo, do apoio de governos e suas agências de fomento.

 

Sobre o autor:

Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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