Elos Faltantes

A Gazeta

19/10/2010

Evandro Milet

O governador Paulo Hartung tem repetido que gostaria que o Espírito Santo fosse reconhecido como exportador de tecnologia e conhecimento e não apenas de commodities. Para chegar a esse ponto, o caminho aponta para dois elos faltantes. A incipiente engenharia capixaba e a falta de uma indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos). Os projetos industriais que aqui se instalam vêm com a engenharia básica embutida em grandes pacotes inexpugnáveis e resta às empresas locais atuarem em manutenção, caldeiraria e montagem e alguns aspectos da engenharia e do software.

Louve-se o polo de Cachoeiro onde foi construída uma pequena porém promissora indústria de bens de capital, com engenheiros projetando e produzindo máquinas para o setor de rochas mas já transbordando para outros setores. A implantação da Weg Motores em Linhares e um possível laminador de tiras a frio pela ArcelorMittal podem ser os elos que faltam para atrair a indústria automotiva e de eletrodomésticos.

A implantação do estaleiro Jurong pode atrair a produção de navipeças e as outras demandas do setor de petróleo e gás podem desenvolver a produção de máquinas e equipamentos para este setor. A ausência de uma indústria de equipamentos é responsável em grande parte pela carência em engenharia, design e tecnologia em geral.

A engenharia de produção aqui e em grande parte do Brasil não forma engenheiros para desenvolver produtos, mas sim para gerir processos. Os engenheiros que se formam acabam trabalhando em manutenção, caldeiraria e montagem onde foi desenvolvida uma excelente capacidade que está sendo responsável por grandes contratos ganhos por empresas locais em projetos de celulose, siderurgia, mineração e agora petróleo e gás, no Estado e por todo o Brasil. A formação de engenheiros de produtos, cuja base são as engenharias de produção, mecânica e eletrônica, só virá quando a indústria demandar esse tipo de profissional.

O Espírito Santo foi pioneiro em programas de qualificação de fornecedores com o Prodfor (Programa Integrado de Desenvolvimento e Qualificação de Fornecedores) e o PDF (Programa de Desenvolvimento de Fornecedores do Espírito Santo). O primeiro atua principalmente na certificação do tipo ISO 9000 enquanto o PDF faz o trabalho de articulação abrindo caminho junto aos grandes projetos para a contratação de fornecedores locais.

Cabe agora a necessidade da terceira geração de qualificação de fornecedores com o seu desenvolvimento tecnológico e capacidade de projetar equipamentos. Se temos o maior parque de pelotização de minério do mundo e somos um grande produtor de celulose, aço e petróleo devemos trabalhar para ter a consolidação de uma engenharia e uma indústria de máquinas e equipamentos para essas cadeias produtivas e seus desdobramentos, o que terá um impacto significativo no sonho de nos transformarmos em exportadores de tecnologia e conhecimento no futuro.

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