Está em curso uma grande transformação empresarial no mundo dos negócios, processo muito acelerado no período da pandemia, com profundos impactos em todos os aspectos da gestão. Um movimento vem pelas transformações digitais no ambiente de negócios, outro pela agenda ESG e outro pela cabeça das novas gerações.
As empresas podem estar em qualquer lugar, os profissionais(cuja atividade permite) podem trabalhar de qualquer lugar e os compradores e usuários de serviços ou produtos e os empregadores aceitam essa nova realidade. Qualquer pequena empresa, de qualquer lugar, tem acesso virtual a serviços bancários, contábeis, tributários, logísticos, comerciais, de comunicação, de governo ou infraestrutura digital. Quem ainda pede o endereço do fornecedor? A assinatura digital elimina distâncias e deslocamentos. O zap permite falar de graça com o mundo e as plataformas para reuniões colocam todo mundo no mesmo ambiente.
Essa realidade pressiona os órgãos públicos a se adaptarem. Não fazem mais sentido as restrições de que empresas sejam sediadas em endereços residenciais, à terceirização de atividades ou à cobrança de impostos municipais com base no local da prestação do serviço, que pode ser feito do exterior ou da nuvem.
O impacto na gestão das empresas é grande. Manter uma cultura corporativa sem a convivência presencial das pessoas, liderar pessoas que mal se conhece o rosto, incentivar a cooperação entre quase anônimos e cobrar assiduidade passam a ser tarefas fluidas e difíceis, exigindo novos processos e atitudes. Adeus planos de cargos e salários; quem for bom tem que subir rápido ou vai embora. Liderar significa motivar e influenciar.
As empresas e suas funções migraram para a rede. O marketing digital é ferramenta à disposição de todos com seu mecanismo de máquina de vendas, pescando clientes e colocando-os em uma engrenagem perpétua. Mas se não atender bem, engajar os clientes, cuidar da sua jornada e trabalhar pelo seu sucesso, rapidamente o mercado descarta.
Sensores da internet das coisas controlam tudo, dados são organizados e disponibilizados em dashboards sintéticos como cockpits de aeronaves, programas de inteligência artificial adivinham o que pode acontecer e vão substituindo pessoas com sua impressionante capacidade de aprender.
Grandes empresas abrem sua caixa de problemas, enfileirados em backlogs intermináveis, para serem resolvidos pela comunidade de competências dispersas, com mil oportunidades para quem se habilitar.
E existem muitos efeitos positivos nessa transformação empresarial. Assédio moral ou sexual ficam mais difíceis de acontecer, ou mais fáceis de registrar no ambiente digital. As oportunidades profissionais crescem para pessoas que normalmente sofrem por discriminação. Do outro lado da tela podem estar todas as orientações sexuais, todas as cores de pele, todas as situações de necessidades especiais, todas as idades, todas as localidades regionais, todos os sotaques, sem que aflorem tão forte os preconceitos, pelo menos até que todos se encontrem como hologramas no metaverso.
A cabeça das novas gerações também está diferente. Se estudam, querem ser mais empreendedores e menos empregados. Se acham que o ensino formal universitário não agrega ao seu potencial no mercado de trabalho, vão à luta sem diploma. Se aceitam empregos, buscam propósito com sentido social e compromisso com a agenda ESG do empregador, que se vira para atender tantas novas demandas.
Essa é a modernidade líquida empresarial, para seguir Zygmunt Bauman, onde os relacionamentos são substituídos por conexões, que a qualquer momento podem ser desfeitas. Que não acabem em burnouts ou problemas com a saúde mental.
Publicado em 15/01/2023 no Portal ES360
https://es360.com.br/a-modernidade-liquida-empresarial/