A vida eterna no Metaverso e além

Por Evandro Milet no Portal ES360

 

Uma vez perguntaram a Woody Allen se ele esperava viver para sempre nas telas. Allen respondeu: “Eu preferiria viver em meu apartamento”. E acrescentou: “Não quero atingir a imortalidade por meio do meu trabalho. Quero atingi-la não morrendo”. Na mesma linha, diz ele: “Não é que eu tenha que morrer. É que eu não quero estar lá quando isso acontecer”.

A preocupação com a morte atinge outras figuras. O cofundador do PayPal, Peter Thiel, confessou recentemente que tem o desejo de viver para sempre: ”Acredito que existem três modos de encarar a morte, ele explicou: Você pode aceitá-la, negá-la ou combatê-la. Nossa sociedade é dominada por pessoas que estão entre a negação e a aceitação; eu prefiro combatê-la.”

Yuval Harari, em Homo Deus, registra que o desenvolvimento vertiginoso de campos como a engenharia genética, a medicina regenerativa e a nanotecnologia estimulam profecias otimistas. Alguns especialistas acreditam que os homens vão vencer a morte por volta de 2200; outros anunciam que isso acontecerá em 2100. E continua: Será que teríamos um começo melhor se adotássemos metas mais modestas, como duplicar a expectativa de vida? No século XX, quase a duplicamos – a expectativa de vida passou de quarenta para setenta anos. Assim, no século XXI, poderíamos ao menos tornar possível uma nova duplicação e chegar aos 150.

No livro “A Singularidade está próxima”, o futurista Ray Kurzweil explica a crença na teoria da singularidade – que consiste na aposta de que haverá um momento em que a humanidade tornará possível não morrer. Para Kurzweil, esse momento tem data marcada: o ano de 2045.

Enquanto isso, podemos atingir uma imortalidade virtual, pelo menos. A tecnologia permite que a imagem de uma pessoa apareça integralmente em forma virtual com a utilização de óculos de realidade virtual. Sistemas de inteligência artificial podem ser alimentados com imagens e informações sobre uma pessoa e fazer uma sua imagem virtual parecer real em movimentos e inclusive falando com simulação real da voz.

Uma empresa da República Checa especializada em soluções de Realidade Virtual anuncia um novo serviço que pretende preservar, no metaverso, um avatar realista do utilizador, mesmo depois da morte. O modo Live Forever permite aos utilizadores ‘renascer’ no metaverso, com uma aparência, voz e personalidade semelhantes aos da pessoa falecida.

A empresa pede, para conseguir oferecer este serviço, autorização para descarregar um grande volume de dados pessoais, como conversas, movimentos e expressões faciais, de forma a conseguir criar uma representação o mais fiel possível.

No primeiro episódio da segunda temporada de Black Mirror, a série de sucesso, uma viúva recria seu marido morto usando um serviço que coleta dados públicos e de redes sociais e recria uma pessoa a partir dessas informações. De início, eles se falam pela internet e por telefone, mas depois a mulher decide também adquirir uma versão androide parecidíssima com seu marido.

Já existe algo nesse caminho. LifeNaut.com é um projeto de pesquisa que permite a qualquer pessoa criar um backup digital de sua mente e código genético. O objetivo final do projeto de pesquisa é explorar a transferência da consciência humana para computadores e robôs.

Um MindFile é um banco de dados de reflexões pessoais capturadas em vídeo, imagem, áudio e documentos sobre você, que podem ser salvas, pesquisadas, baixadas e compartilhadas com amigos. Cada conta vem com um Avatar interativo que se torna mais parecido com você quanto mais você ensina e treina para pensar como você.

O Arquivo Biológico permite que você colete e armazene uma cópia do seu DNA gratuitamente. Ao combinar uma conta LifeNaut Bio File com uma conta LifeNaut Mind File, há uma chance de que a tecnologia futura seja capaz de criar um novo corpo para você a partir de suas células vivas armazenadas e permitir que você dê um download do seu arquivo mental consciente para esse corpo.

Depois dessa viajada macabra, é melhor torcer pela singularidade ou dizer como Woody Allen: “Depois de morto, podem jogar meus filmes no mar. Não estou nem aí para a posteridade”.

Feliz 2023 e uma vida longa, por aqui mesmo, com saúde, para todos os leitores.

 

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Publicado em 01/01/2023 no Portal ES360