A revista The Economist publicou matéria investigando para onde as Big Five (Apple, Microsoft, Amazon, Meta/Facebook e Alphabet/Google) estão dirigindo seus investimentos em inovação, como forma de perceber o futuro. Uma crítica recorrente que motivou a matéria afirma que as grandes empresas estariam impedindo inovações do mercado ao monopolizar os avanços, comprando empresas que mostravam alguma inovação relevante.
De fato, isso acontece com frequência, como quando o Facebook adquiriu o WhatsApp e o Instagram, quando essas empresas começaram a sinalizar crescimento exponencial. Mas será que esse movimento impede a inovação?
Um contra-argumento para isso é que a competição em tecnologia está longe de estar morta. É difícil encontrar uma parte da indústria onde dois ou mais dos “Big Five” não estejam se enfrentando. Como todos passaram por crescimentos exponenciais, estão bem cientes de que perder a próxima disrupção pode levá-las a serem expulsas do futuro. Isso aconteceu no passado com várias empresas que se perderam no caminho, como foi o caso de Kodak, Blackberry, Nokia, Yahoo, Atari, Xerox e RadioShack, entre outros.
Para ter uma ideia de suas estratégias, The Economist analisou uma série de dados sobre as atividades das Big Five, incluindo o foco em tecnologia das empresas que adquiriram recentemente e daquelas nas quais têm participações minoritárias, perfis de seus funcionários no LinkedIn e suas publicações e patentes.
Em 2020, os gastos públicos e privados dos Estados Unidos em pesquisa e desenvolvimento somaram US$ 713 bilhões. Em 2021, as Cinco Grandes gastaram US$ 149 bilhões, o equivalente a cerca de um quarto desse total (embora parte desse dinheiro não seja gasto nos Estados Unidos). Uma razão para gastos realmente grandes é que essas empresas são realmente grandes. As receitas das Cinco Grandes, que têm um valor de mercado combinado de mais de US$ 9 trilhões, quase triplicaram entre 2015 e 2020.
Os analistas calculam que algo entre 5% e 20% dos gastos maciços em P&D dos gigantes da tecnologia vão para o que o artigo chama de “tecnologias de fronteira”: o metaverso, veículos autônomos, saúde, espaço, robótica, fintechs, criptografia, computação quântica e inteligência artificial.
Nos últimos três anos, as Cinco Grandes adquiriram cerca de 110 empresas. O sinal mais claro é a busca de Meta por todas as coisas do metaverso. Das 13 empresas que trabalham em realidade aumentada (RA) ou Realidade Virtual (RV) que foram compradas a preço divulgado, a Meta comprou oito, a Apple comprou outras quatro. Mas sua maior prioridade por esta medida foi IA. De suas 22 compras desde 2019, mais da metade foram startups relacionadas à IA. A recente aquisição da empresa de games Activision Blizzard pela Microsoft por robustos 69 bilhões de dólares certamente indica um caminho, considerando que o setor de games é o ambiente natural e primeiro do metaverso, e é caminho para tentar dominar a nova WEB3, se não for realmente descentralizada como se espera.
Outra janela para as prioridades de quatro das cinco empresas é onde elas escolhem ter participações minoritárias. Aqui, também, as escolhas são reveladoras. Todas investiram em empresas projetando veículos autônomos.
Há também muito investimento em serviços de nuvem, muitas patentes em computação quântica, aquisição de startups de wearables focadas em saúde e muitas contratações de pessoal em RA e RV.
Pode ser que eventuais aquisições de startups inovadoras atrasem um pouco algum caminho específico, mas é muito arriscado e praticamente impossível. As outras estão antenadas e não vão deixar barato.
Publicado em A Gazeta em 29/01/2022