Há algum tempo, um empresário de confecções de Colatina me contava que havia contratado um designer português para desenhar uma coleção de jeans que foi negociada com a Zara. A produção foi contratada no Marrocos pelo custo, mostrando uma operação global completa, aproveitando o melhor em cada etapa e tudo isso comandado de Colatina. Provavelmente está muito mais difícil a situação hoje com a pandemia que atingiu o setor, mas mostra que a inovação acontece também na concepção de moda, na forma de organizar o processo de produção e na busca por redução de custos. Mas não é só aí. A tecnologia dos tecidos e a preocupação com a sustentabilidade também são tópicos de inovação.
A nanotecnologia prepara tecidos inteligentes que recebem um incremento em sua estrutura molecular. Por exemplo, recentemente foram desenvolvidas peças de roupas — como calças e casacos — que têm função repelente, impedindo que mosquitos e demais insetos entrem em contato direto com a pele. Isso ocorre por meio da encapsulação de inseticidas nas fibras da roupa. A nanotecnologia também pode atuar na prevenção ao incêndio de roupas. Ao alterar a estrutura dos fios, é possível retardar o processo que faz com que entrem em chamas. Ótima tecnologia para aplicação em EPIs e uniformes industriais. Do mesmo modo é possível introduzir no meio dos fios do tecido um controle de fungos e bactérias e evitar o suor além de transmissão de doenças. As nanopartículas podem também atuar no controle de temperatura do tecido, reduzindo a sensação de calor ou de frio ou também na proteção de raios UV. Já existem tecidos que repelem água, café, vinho e qualquer outro líquido . Com isso, qualquer tecido pode ser impermeável – e não apenas aqueles mais sintéticos.
Outro aspecto que demanda Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em confecções é na geração de resíduos, na destinação das sobras, na reciclagem e em todos os aspectos relativos à sustentabilidade ambiental onde a economia circular propõe um aproveitamento praticamente integral do material.
Além disso, todas as inovações tecnológicas que atingem o setor industrial em geral afetam o setor de confecções incluindo a automação, a personalização de produtos, a análise de dados, a internet das coisas, a inteligência artificial, a impressão 3D e a realidade aumentada.
As redes, o comércio eletrônico e todo o mundo digital possibilitaram que qualquer lugar, seja a Grande Vitória ou em Colatina, as duas regiões mais organizadas para confecções, possa se tornar competitivo e consiga acompanhar as novidades.
Para um nível atualizado de competitividade, o setor deve se aproximar das universidades, incentivando parcerias que tragam as novidades para dentro das indústrias, mas também formem as pessoas que vão implementar essas mudanças. Trazer as tecnologias de ponta para as universidades e para as empresas prepara o estado para o novo desenvolvimento.
O trabalho capitaneado pela Findes para a Rota estratégica de confecções, têxteis e calçados enumera as ações necessárias para esse caminho. O roteiro está traçado. Agora é agir.
https://www.agazeta.com.br/colunas/evandro-milet/a-nanotecnologia-no-futuro-do-setor-de-confeccoes-do-es-0521
Publicado no Gazeta Online em 08/05/2021