Por Evandro Milet
Interessante a iniciativa do Governo do Estado em fundir as Secretarias de Desenvolvimento e Ciência, Tecnologia e Inovação. Melhor ainda se não for apenas uma movimentação para acomodar espaços políticos e realmente sinalizar a decisão de colocar a ciência, tecnologia e inovação como protagonistas do processo de desenvolvimento do Estado. No mundo, as maiores empresas deixaram de ser aquelas tradicionais petrolíferas, automobilísticas e bancárias que deram lugar às inovadoras de hardware, software, ecommerce e redes sociais. Mesmo as empresas industriais, comerciais, de serviço e agricultura estão tendo de se reinventar, com uma digitalização acelerada que implica em inovações de produtos, processos, marketing e muitas vezes em completa transformação de modelos de negócios. As novas tecnologias de internet das coisas, inteligência artificial, big data, analytics, biotecnologia e nanotecnologia geraram novas tendências, aí incluindo a indústria 4.0, o marketing digital, as startups ameaçando grandes empresas ou se associando a elas, a mudança da indústria farmacêutica, a proliferação exponencial do e-commerce, os equipamentos para mobilidade urbana, as cidades inteligentes, a educação à distância, o teletrabalho e a telemedicina, entre tantas outras mudanças.
Quando rebatemos essa tendência mundial para o Espírito Santo, a nova secretaria sinaliza a obrigação de planejar e apoiar esse novo desenvolvimento com infraestrutura, informação, articulação, oferta de recursos financeiros e captação de empreendimentos que agreguem a esse novo desenvolvimento.
Há que se estabelecer uma conexão mais forte do estado com as universidades para apoiar projetos e formar pessoal capacitado. Há uma demanda mundial não atendida para profissionais de técnicas digitais. Capixabas estão sendo contratados por empresas de outros estados e outros países e urge uma atenção especial na preparação de profissionais. Muitas empresas nem exigem mais diplomas universitários.
Empresas definem local de instalação hoje, menos por subsídios e mais por infraestrutura, inclusive digital, e pessoal qualificado disponível. Ainda temos a vantagem exaltada nacionalmente de um estado organizado financeiramente e com bom ambiente de negócios. Empresas que já vieram ou que poderão vir para o estado deveriam ser incentivadas a trazer spinoffs dos seus centros de pesquisa, como já fazem pelo menos a Vale, com um centro de inteligência artificial e a Arcelor com um núcleo para indústria 4.0. Por que a Weg, a Volare, a Suzano e outras que vierem não poderiam também rebater os seus centros de inteligência e seus programas de inovação aberta aqui? Todas essas empresas têm conexões internacionais fortíssimas que poderiam transbordar para o estado. O ES tem a vocação logística que tem tudo a ver com a explosão do ecommerce. Temos de conseguir trazer a rede 5G logo depois do leilão, temos que planejar logo e negociar com as operadoras.Temos de criar mecanismos de apoio às incubadoras e aceleradoras de startups e disseminar a utilização de fundos de investimentos onde o Bandes tem um trabalho ainda tímido para as necessidades do futuro.
Enfim, está na hora de colocar o Espírito Santo como protagonista relevante nesse novo desenvolvimento, onde as novas tecnologias deixam de ser exóticas e marginais para assumirem um papel central. A nova secretaria pode ser uma inspiração. O cuidado é evitar que o desenvolvimento tradicional, sem dúvida extremamente importante, inclusive para trazer e adensar novas cadeias, ofusque as ações e recursos da ciência, tecnologia e inovação.
Publicado em Gazeta online em 06/03/2021