O crescimento do anão

Conta-se que um novo gestor público, recém eleito, recebeu do seu antecessor três cartas para serem abertas sucessivamente nas três primeiras crises que enfrentasse. Na primeira crise, aberta a primeira carta estava lá: “Culpe a administração anterior”. Resolvido o problema com a atitude tomada seguiu-se o governo até que ocorreu a segunda crise. Corre-se para abrir o segundo envelope onde está: “Mude o organograma e troque as pessoas”. Sanada a segunda crise, passado mais um tempo, ocorre a terceira. Rapidamente recorre-se à terceira carta que diz: “Escreva três cartas”.

Artigos recentes de José Luiz Orrico e Bruno Negris neste espaço apontam as dificuldades porque passam os gestores publicos sérios, muitos dedicando sua vida a uma causa e sofrendo as vicissitudes dos cargos. A sensação é muitas vezes a mesma de subir uma ladeira numa bicicleta de marchas quando se pedala furiosamente para subir devagarinho, desviando de buracos que aparecem de repente como num vídeogame. O ex-ministro Pedro Malan já constatava essa dificuldade ao dizer que no Brasil até o passado é imprevisível.

Dadas as dificuldades, louve-se o gestor público que consegue fazer o que tem que ser feito e ainda sair limpo. Na intenção de controlar corrupção e má administração, a legislação e os órgãos de controle acabam criando um sistema onde o gestor público muitas vezes evita ou posterga alguma ação com medo das consequências. Novas instâncias burocráticas são criadas e o nonsense às vezes acaba imperando, gerando brincadeiras como este cartaz numa repartição pública de Brasília: “Teoria é quando se sabe tudo e nada funciona. Prática é quando tudo funciona e ninguém sabe por quê. Neste recinto conjugam-se teoria e prática: nada funciona e ninguém sabe por quê”. Aliás, o ex-Ministro Delfim Neto já dizia que quando o governo toma conta do circo o anão começa a crescer.

O fato é que está cada vez mais claro em todos os níveis de governo, e em todos os matizes ideológicos, que a ideia antiga no Brasil de que o governo é mais capaz de fazer as coisas do que a área privada está morrendo de inanição. Parcerias público-privadas , concessões e privatizações são a regra, aliadas a uma estrutura de agências  reguladoras para fiscalização.

Os governos já tem muito o que fazer na saúde, educação, segurança e outras áreas mais de sua alçada. Talvez assim fique mais fácil cumprir as palavras de Aparício Torelly, o Barão de Itararé(em homenagem à batalha que nunca aconteceu) quando dizia que o Brasil é feito por nós e que precisamos desatar esses nós.