Na pandemia muita gente aprendeu a utilizar ferramentas que não sabia usar e que talvez até rejeitasse. Avós agora sabem como se comunicar com os netos pelas plataformas, muitos usaram pela primeira vez o comércio eletrônico, quantidade grande se viciou em joguinhos eletrizantes, outros aprenderam a descobrir filmes e séries no Netflix. Professores aprenderam como se comunicar em uma ainda precária educação à distância emergencial, empresas que relutaram muitos anos com o teletrabalho agora dizem que não voltarão mais aos escritórios, pelo menos não na mesma proporção. O fato é que a pandemia foi um antecipador de futuros para quase todos, menos para grande parte das universidades federais.
Enquanto as universidades particulares se sentiram pressionadas pela possibilidade de perda de alunos e reagiram com o EAD que deu para fazer, professores de universidades federais continuaram a receber dinheiro público sem contrapartida de trabalho, em uma apropriação indébita escandalosa. Alunos que se esforçaram durante todo o ano passado para conseguir passar em uma universidade federal ficaram agora todo o primeiro semestre sem aulas. A justificativa, à la socialismo cubano, é ridícula: se todos não podem ter a educação online por falta de acesso a computadores ou internet, então que ninguém tenha. Louve-se a Unicamp, que logo em março identificou os alunos que não tinham recursos e deu um jeito de conseguir computadores e acesso a eles. O elogio se estende a poucas outras como o Ifes que se virou para acessar os alunos. Enquanto isso a Ufes deixou seus alunos em casa sinalizando uma incompetência deprimente.
Daqui para frente todos terão de enfrentar problemas maiores, que a transformação digital forçada acelerou. As crianças que estão entrando nas escolas são todas nativos digitais e tem que enfrentar a posição fora de época que considera transgressão um aluno usar celulares em sala de aula. Os celulares são quase uma prótese, uma extensão do braço, um amplificador de sentidos e não tem sentido afastá-los. E nas aulas virtuais não há como vigiar transgressões. Há que se conseguir uma maneira de conviver com isso. Alunos não precisam mais decorar aquilo que eles têm acesso na hora que quiser e os professores e os métodos terão que considerar isso.
O mercado de trabalho quer profissionais com a alma digital e não faz sentido separá-los da sua ferramenta básica. Se a geração passada já mudava hábitos zapeando canais na TV, essa geração zapeia páginas na internet, sem paciência com qualquer atraso, e se comunica pelo zap. Temos o novo Homo Zapiens e podemos aproveitar esse meteoro da pandemia para fazer desse limão uma limonada digital, mudando a forma de ensinar e incorporando definitivamente o mundo digital no ensino.
Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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