A tática de buscar na ciência apenas os achados que confirmam crenças prévias é comum. Um estudo do cientista John Cook (Universidade de Queensland, Austrália) mostrou que, de 11.944 artigos científicos publicados em revistas especializadas, 97% deles concordavam com o impacto da ação humana no aquecimento global. Mesmo assim, há quem prefira acreditar nos 3% de artigos que dizem o contrário. Da mesma forma na atual pandemia, apesar da imensa maioria dos países e dos infectologistas defenderem o isolamento como a única medida para diminuir a velocidade de propagação do vírus, sempre aparece o vídeo de algum suposto especialista, mas que ninguém conhece, defendendo o contrário ou alguém citando a Suécia, a exceção da exceção(contestada), como a melhor alternativa.
Histórias fantasiosas proliferam. Gente importante demonizou a China, nosso maior parceiro comercial, como protagonista de um diabólico plano para espalhar o vírus e implantar o comunismo no mundo. Millôr Fernandes tinha razão quando dizia que as ideologias, quando ficam bem velhinhas, vêm morar no Brasil.
O iluminismo mostrou a importância da ciência para entender o mundo. Um inglês instruído em 1600 acreditava em bruxas, lobisomens, geração espontânea de ratos, transformar metal em ouro, e que a Terra é imóvel e o Sol gira em torno delas. Hoje, em pleno século 21 ainda existem terraplanistas, criacionistas que contestam a evolução, pessoas que contestam as vacinas, gente que acha que o vírus não existe, que os brasileiros por conviverem com esgoto estão imunes ou curandeiros políticos defendendo uma tal pílula do câncer e outros remédios sem respaldo da ciência.
A deficiência em matemática e ciências(e português), revelada pela baixíssima colocação dos estudantes brasileiros no exame Pisa, fica exposta nas redes sociais, onde pessoas interpretam as extrapolações da curva exponencial de óbitos como alarmismo ou adivinhação, divulgam estatísticas fajutas, não entendem escalas logarítmicas, interpretam textos ao contrário e não conseguem perceber fake news.
A Base Nacional Comum Curricular pode contribuir para o nosso futuro com a proposta de desenvolver nos estudantes a habilidade de investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas em busca de soluções.
É uma esperança. Ciência sempre.
Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
Se você quiser ser notificado sobre novos textos clique no botão “Seguir”.
Você curtiu o texto? Então clique no botão Gostei, logo abaixo, ou deixe seu comentário. Fazendo isso, você ajuda essa história a ser encontrada por mais pessoas.
Leia também outras dezenas de artigos de minha autoria