A guerra dos sem-noção

Existe uma figura que transita nas mídias sociais, que pode estar à direita ou à esquerda, mas se apresenta sempre com algumas características marcantes: é o sem-noção.

Ele tem soluções simples para problemas complexos, adora a expressão “simples assim”, replica fake news absurdas com a sugestão de que repassem para o maior número de pessoas, publica notícias e vídeos antigos como se fossem recentes, justifica qualquer boçalidade dita pelo seu ídolo político, compara situações que não têm nada a ver e adora uma teoria da conspiração.

Os sem-noção à direita replicam posts delirantes de pseudo filósofos, curtem qualquer estultícia dita por um ministro(e tem muitas), comparam incêndios criminosos na Amazônia com incêndios provocados pelas altas temperaturas na França ou Califórnia, generalizam aberrações absolutamente excepcionais e tem paranoia com o Foro de São Paulo e com a tomada da Amazônia por forças internacionais. Para esses, golden shower, plantação de maconha e surubas nas universidades estão disseminadas.

Como Lula saiu do governo com quase 90% de aprovação, pode-se deduzir que grande parte da direita de hoje já apoiou a esquerda e tem alta rejeição ao próprio passado, talvez daí o histrionismo nas redes.

Em 2014, os 10 jornais diários mais relevantes tinham uma tiragem somada de 1,2 milhão de exemplares impressos. Isso não é nem uma pequena fração da quantidade de pessoas que circulam e se manifestam hoje na internet. Só no Facebook são 127 milhões ativos mensalmente. Daí se pode deduzir que a imensa maioria não lia jornais, embora visse TV, mas talvez explique o argumento sem-noção de que a grande imprensa não publicava nada contra Lula. Como é que o sem-noção ouviu falar de mensalão, petrolão e Lava-Jato senão pela imprensa? Preocupante é que essa imensa maioria não tem noção de política, economia ou democracia e acaba apoiando qualquer barbaridade. Prova disso é a visão distorcida de que quem não é bolsominion é petista e a defesa que os sem-noção fazem da ditadura militar sem lembrar da herança colossal da dívida externa e da inflação de mais de 200% na saída.

Os sem-noção à esquerda reclamam das rodadas de concessão de exploração de petróleo, dizendo que a Petrobras está sendo dilapidada, tentando apagar a cleptolambança do PT na empresa. Aliás essa tática de apagar o que não gosta vem dos expurgos de Stalin que conseguia apagar os desafetos nas fotografias. Agora o PT quer nos convencer que o governo Dilma nunca existiu, quando pula as estatísticas de Lula diretamente para Temer. Daqui a pouco as fotos de Dilma vão sumir, como a referência à ex-Presidenta sumiu dos discursos.

Um outro sem-noção reclamava que o leilão da cessão onerosa iria entregar por 100 milhões petróleo que valia um trilhão. Parece que as grandes multinacionais não sabem fazer contas e não apareceram para levar tal pechincha. Deve ser a tal teoria da conspiração internacional comandada pela CIA para nos tomar o petróleo.

A sem-noçãozisse se completa com o apoio e negação de ditadura na Venezuela, mesmo depois das inúmeras mudanças de Constituição, ocupação dos outros poderes e sucessivas reeleições duvidosas, bem como com a comparação esdrúxula das reeleições imorais de Evo Morales com as reeleições parlamentaristas na Inglaterra.

Mas eles se alinham para falar mal da Rede Globo. A direita reclama que não são publicadas as coisas boas do governo, esquecendo de quando acontece alguma coisa boa coincide com um disparate dito por um ministro, um filho, ou pelo próprio, que ocupa as manchetes. A esquerda reclama que não dão trégua pedindo a prisão do Lula e apoiando a Lava Jato, como se não tivessem nada a ver com os bilhões roubados. Um bando de sem-noção.

Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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