O professor de Harvard Joseph Nye propôs o termo soft power (ou poder brando), em um livro de 2004, para designar a forma como uma nação impõe sua influência no resto do mundo por meios diferentes da coerção, do dinheiro e da supremacia militar — o chamado hard power. Poder é a capacidade de influenciar os outros para que façam o que você quer. Há três maneiras de fazer isso: ameaçá-los com porretes, recompensá-los com cenouras ou atraí-los para que queiram o mesmo que você. Essa terceira opção é o soft power e necessita que o estado influenciado tenha alguma admiração pelo estado influenciador.
De acordo com Nye, há três fontes básicas de soft power: cultura, valores políticos e política externa, vista como legítima e com autoridade moral. Segundo Nye, a cultura dos Estados Unidos permite que sua capacidade de influência seja maior que a força militar, diferente do que ocorreu com os impérios Romano e Soviético. É fácil perceber a influência de Hollywood, Disney, Netflix, Spotify, Harvard, Stanford, Google, Apple, Microsoft, Amazon e dezenas de outras siglas. Milhares de estudantes estrangeiros vão estudar nos Estados Unidos e disseminam os valores da cultura americana nos seus países.
O Brasil não terá durante muitos anos capacidade de influência econômica no mundo e muito menos poder militar. Mas poderia ter alguma influência pela cultura, onde despontam a música e alguma coisa de televisão disseminada em muitos países. Porém o maior ativo de soft power seria o meio ambiente. A nossa matriz energética é constituída de 43% de energia renovável, enquanto o mundo usa apenas 14%. Temos 12% das florestas do mundo, e a Amazônia é um ativo inestimável por concentrar a maior diversidade do planeta. Existe um entendimento que o Brasil poderia ser um grande líder de soft power nesse tema, que cresce na opinião pública mundial, se despertar o respeito e a admiração de outros países. Se acabar com o negacionismo e os delírios conspiratórios, poderia criar essa autoridade moral, se efetivamente atuar para resolver os problemas existentes. Seria um trunfo no apoio às demandas de entrada na OCDE, no Conselho de Segurança da ONU e para acordos de comércio, que estão cada vez mais exigentes no tema sustentabilidade ambiental. Poderíamos transformar o limão em uma limonada, propondo um grande acordo de cooperação internacional com recursos para rastreamento de madeira ilegal, manejo sustentável e aproveitamento da biodiversidade nas indústrias de alimentos, farmacêutica e de cosméticos. Mas soft power exige firmeza, inteligência, menos barulho e mais diplomacia.
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