Qual política industrial?

As discussões de política industrial mostram as variedades ideológicas marcantes no Brasil. De um lado os liberais, defendendo a ideia de políticas horizontais, válidas para todos, com melhorias em impostos, burocracia, logística, câmbio, inovação, legislação trabalhista e educação, e, quem for competente que se estabeleça e cresça. Do lado oposto, os defensores de um ativismo governamental, escolhendo e apoiando setores estratégicos para o país e  empresas capazes de disputar o mercado global com os grandes players mundiais. Essa opção recorre ao sucesso das políticas de países que deram certo como o Japão, Coreia e a China mais recentemente, embora as razões desse sucesso sejam diversas.

A visão liberal justifica sua posição com erros sucessivos nas tentativas de escolher vencedores e com os custos maiores das políticas de conteúdo local que prejudicam a competitividade das empresas que têm de cumpri-las. O outro lado vislumbra empresas de capital e marcas nacionais dominando tecnologia e crescendo, favorecidas por compras privilegiadas no mercado interno, enquanto ganham força para exportar.

Na posição intermediária, outra corrente ressalta a importância das políticas horizontais, mas aceita a ideia de apoio a poucos setores onde o país possa ter vantagens competitivas, com prazo definido e com avaliações periódicas, transparentes e bem feitas de custo/benefício. Os setores naturais seriam: agronegócios(incluindo o etanol), mineração e petróleo pela dimensão do pré-sal.

Por que não temos empresas nacionais produzindo insumos e equipamentos para a poderosa agricultura, setores dominados por multinacionais, apesar do brilhante trabalho da Embrapa? Por que os equipamentos de mineração, onde o Brasil tem um grande peso global, são totalmente fornecidos por multinacionais? Empresas estrangeiras produzindo no Brasil tem o mesmo efeito que empresas de capital nacional? O exemplo da Embraer, que comanda uma cadeia global, com domínio de projeto, é realmente difícil de replicar?

O domínio do projeto, da engenharia básica e da capacidade de inovar são fundamentais para gerar novas riquezas. Multinacionais guardam lá fora esse conhecimento embora, produzindo no Brasil, contribuam gerando empregos. Entretanto, deveriam, pelo menos, comprometer-se em participar das suas próprias cadeias globais de valor, contribuindo para a balança comercial e para a criação de uma rede de subfornecedores locais.

Enfim, a posição intermediária parece trazer mais benefícios ao país, conjugando o espírito liberal com uma visão estratégica em alguns setores.