Aparício Torelly, humorista político, utilizava o título falso de Barão de Itararé, celebrando uma batalha que não houve durante a revolução de 1930. É dele a frase: “O Brasil é feito por nós. Precisamos desatar esses nós.”
Armínio Fraga, no prefácio do excelente livro “A retomada do crescimento” organizado por Fábio Giambiagi e Mansueto de Almeida, fala de alguns desses nós e da dificuldade do Brasil de achar e persistir em um bom caminho. Apesar do muito que se fez de bom ao longo do século passado e deste início de século, a renda per capita do Brasil segue inferior a 20% da norte-americana. Em tese, continua ele, um país menos desenvolvido deveria apresentar excelentes oportunidades de investimento, com altos retornos e capazes de encurtar a distância para as economias mais avançadas, investindo em capital físico e humano, em construir instituições, em estimular a inovação e o empreendedorismo. Por que, indaga ele, essa convergência tem sido tão lenta? Por que o investimento não tem atingido a escala, abrangência e qualidade necessária? Ele arrisca dizer que, dentre os fatores responsáveis por isso, destacam-se o papel das ideias equivocadas, de um Estado e instituições ineficazes e de uma cultura problemática. No campo das ideias, continua ele, somos vítimas de um período de grande sucesso: os 30 anos de crescimento acelerado do país a partir de 1950. Neste período, a renda per capita do Brasil dobrou como proporção da renda dos EUA. Foi uma fase de de industrialização e investimentos em infraestrutura. Ao final do período, o modelo começou a ratear e acabou em sucessivas crises de balanço de pagamentos e inflação. Em outras palavras: o modelo fracassou, conclui Armínio. O pecado original é facilmente identificável: o Brasil optou por um modelo de economia fechada(substituição de importações), com pouco foco em capital humano, inovação e produtividade e com enorme papel do Estado em atividades produtivas que incluem praticamente todas as dimensões da infraestrutura, além de importantes setores como mineração, aço e bancos. Talvez por ter dado certo por um bom tempo, tem sido difícil até hoje mudar de rumo. Muito se fez nos governos de FHC e no primeiro mandato de Lula, inclusive na área social, mas pouco a pouco uma mudança de rota na direção do que tinha claramente dado errado no passado, nos trouxe à depressão econômica de 2015-2016. Hoje o Brasil ainda carece de um certo consenso quanto ao caminho a seguir na área econômica – e paga caro por isso, conclui Armínio.
Esperamos encontrar esse consenso em 2018. Feliz Ano Novo para todos!
Sobre o autor:
Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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