O candidato e as mulheres

Recentemente, um site de notícias publicou a seguinte manchete: “Mulher é estuprada após tomar calmante e pegar no sono sem roupas e com a casa aberta”. Imediatamente as redes sociais reagiram e corrigiram a frase: “Mulher é estuprada enquanto dorme dentro da própria casa”. A frase inicial, logo apagada pelo site, insinua que a culpa do estupro é da mulher, por estar nua com a casa aberta e tira a culpa do estuprador, numa inversão de valores que, infelizmente, ainda prevalece na sociedade.

Um editorial da prestigiada revista Lancet, da área da saúde, sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres no mundo, mostra alguns números estarrecedores. Uma em cada três mulheres experimentarão violência de um parceiro, uma em quatro mulheres se casam ainda crianças, 71% do tráfico de pessoas são de mulheres, 200 milhões de meninas e mulheres sofreram mutilação genital, 130 milhões de meninas estão fora da escola e estima-se que entre 2010 e 2014, houve 25,5 milhões de abortos inseguros, sendo 97% deles nos países em desenvolvimento.

Aqui no Espírito Santo, o assassinato recente da médica Milena pelo ex-marido trouxe a tona números alarmantes. Somente neste ano, já foram registrados 95 homicídios contra a mulher(no ano passado inteiro foram 93),  sendo 23 feminicídios, quando a vítima é morta devido à sua condição de sexo feminino. Ciúmes ou sentimento de posse motivam os crimes.

O governo do Espírito Santo lançou recentemente uma campanha para envolver toda a sociedade no combate à violência contra a mulher. O objetivo é mudar o comportamento em relação às mulheres e incentivar denúncias às agressões.

Em um quadro dramático como esse, a sociedade é obrigada a ouvir, de um candidato à Presidente, frases que demonstram o total despreparo para entender os problemas que as mulheres enfrentam. “Mulher deve ganhar salário menor porque engravida”, disse o candidato. “Não te estupro porque você não merece”,  para a deputada federal Maria do Rosário, e aqui não cabe, como a manchete do início, nenhum juízo de valor sobre as opiniões políticas da deputada. “Eu tive 5 filhos, 4 homens e no último eu fraquejei e veio uma mulher”. Num comentário pretensamente gaiato, transparece o machismo, a misoginia, o atraso, o descaso pelo feminino. Em vídeos na internet propõe que as mulheres prefiram um revólver a uma lei sobre feminicídio, ignorando que o problema não acontece na rua com bandidos, mas dentro de casa.

Quem tem um raciocínio rasteiro como esse não tem a mínima condição de entender a situação das mulheres e nem postura de Presidente da República.

Sobre o autor:

Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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