Educação e Crescimento

A Gazeta

09/03/2007

Evandro Milet

A primeira menção escrita de que a educação é como uma ferramenta que expande a produtividade do trabalhador vem de “A Riqueza das Nações” (1776), de Adam Smith. O tema voltou a ser tratado mais tarde e foi popularizado por dois ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, Schultz e Becker, que consagraram a teoria do capital humano. A idéia fundamental da teoria é que o trabalho corresponde a mais do que apenas um fator de produção, devendo ser considerado como um tipo de capital: o capital humano, agora entendido como fator decisivo para a geração de riqueza e de crescimento econômico. No Brasil, estudos mostram que, a cada ano adicional de estudo, tem-se acréscimo de renda de mais de 10%.

A educação funciona também como um verdadeiro seguro-desemprego. Em 2002, um indivíduo com nível médio incompleto tinha 17,6% de probabilidade de estar desempregado. Ao completar o ensino médio, suas chances de desemprego caíam para 10,9%. E, caso tivesse o superior, ainda que incompleto, era de apenas 5,4%.

Um fator preponderante para explicar o crescimento do PIB entre Estados é o capital humano. A cada ano de escolaridade média da UF está associada uma elevação de 36% a 38% do PIB.

Os exemplos da ex-União Soviética, de Cuba e da Argentina mostram, porém, que a educação é necessária, mas não é suficiente para garantir o desenvolvimento. No Brasil, a escassez da educação não impediu um crescimento acelerado até a década de 80.

Sabe-se que a demanda por educação e formação depende do nível de complexidade da tecnologia e, ainda mais, da velocidade com que ela muda. Quando a tecnologia muda permanentemente, como é o caso atual, a velocidade de adaptação depende do nível de escolaridade. O Brasil tem uma média de educação que não chega a sete anos de escolaridade, e com péssimas escolas. Em geral, o trabalhador com escolaridade igual à média do país não tem autonomia para buscar informações, para receber instruções mais complexas ou produzir comunicações escritas de certa complexidade. Também não é capaz de aprender por conta própria e tem grande dificuldade de tomar decisões complexas, com muitas variáveis envolvidas e para as quais se requer certo nível de abstração.

Além disso, como a maioria dos empregos depende cada vez mais de micro e pequenas empresas, o baixo nível educacional dos seus proprietários e funcionários os isola da modernidade, da informação e dos bons hábitos de trabalho.

O fato é que antes o Brasil podia crescer com pouca educação e agora não pode mais. E ainda temos perto de 120 milhões de analfabetos funcionais.

Essas são algumas conclusões do excelente trabalho “Brasil: o estado de uma nação”, publicado pelo Ipea em 2006. Urge colocar a educação no topo da pauta de discussões do país, agora que o crescimento passa a ser a preocupação principal de governo e oposição.

Evandro Milet é diretor técnico do Sebrae-ES