Nas redes sociais, pessoas que não entendem o processo democrático e nem conhecem história, defendem opções simplistas para a solução de problemas. Populistas à direita e à esquerda, como Bolsonaro ou Lula, se aproveitam disso, por ignorância ou má-fé e buscam liderar essas pessoas.
Uma simplificação é o elogio aos governos militares, como se esse período tivesse sido uma maravilha. Fora a barbárie da tortura e desaparecimento de pessoas, alguns afirmam que naquela época não havia problema de segurança e que andávamos livres nas ruas. Ora, também no governo Juscelino ou Getúlio não havia problemas, principalmente porque não existia o tráfico de drogas na escala de hoje. A segurança não tinha a ver com regime militar ou não. Eram outros tempos.
Quem conhece um pouco da história também sabe que o Brasil quebrou com a crise do petróleo em 1973 e 1979, ajudado pela arrogância e autossuficiência do então Presidente da Petrobras e depois Presidente da República Ernesto Geisel. Mesmo avisado que o cartel árabe aumentaria o preço do petróleo, menosprezou o aviso, como relata sempre o ex-ministro Delfim Netto.
O petróleo aumentou de 3 para 12 e depois para 34 dólares o barril e o país entrou na década perdida de 1980. Essa decisão se parece com aquelas tomadas por Lula para autorizar novas refinarias de petróleo no nordeste. Sem avaliar custos e com autossuficiência e ignorância, atropelou as decisões técnicas e ajudou a quebrar a Petrobras.
Casos de corrupção eram sussurrados naquela época, com jornais censurados, inúmeros políticos cassados indiscriminadamente, ministros do Supremo aposentados à força e investimentos duvidosos feitos sem crítica quanto ao custo global, ambiental ou indígena, e o descaso lamentável com a educação. Agora temos liberdade de imprensa para denunciar e debater e justiça para punir, impossíveis naquela época.
A ditadura militar, em 21 anos, atrasou a formação de novas lideranças democráticas e, quando foi forçada a sair, por pressão popular e pelo desastre econômico, tivemos a volta de Brizola, que demoliu o Rio de Janeiro e a novidade foi a dupla Lula e Collor na primeira eleição livre. Deu no que deu. Durante esse período, quem se organizou clandestinamente foi a esquerda, ressurgindo com força e, como num movimento pendular, influenciando decisivamente a Constituição de 1988 nos temas econômicos.
Não podemos cultivar salvadores da pátria, nem visões simplistas para os grandes problemas que temos. Apesar dos problemas, é melhor acreditar na democracia, sem ilusionismos à direita ou à esquerda e eleger Presidentes da República que defendam ideias com as quais concordamos como eleitores , mas também tenham a capacidade de implementá-las, interagindo com o Congresso Nacional eleito.
Sobre o autor:
Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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