No Antigo Testamento é contada a história de duas mulheres que moravam na mesma casa e tiveram filhos ao mesmo tempo. Em uma noite, uma das mães dormiu sobre o filho e o matou. Inconformada, no meio da noite trocou a sua pela criança da outra mulher. Criada a disputa pela criança viva, foram levadas as duas mulheres à presença do Rei Salomão. Sem acordo, o Rei decidiu que a criança seria partida ao meio pela espada. A mãe verdadeira suplicou que não fizesse isso e que poderia deixar a criança com a outra. A falsa mãe aceitou a decisão: nem lá nem cá. O Rei Salomão então, em uma sábia decisão, entregou o filho à mãe verdadeira.
Erroneamente, dizemos hoje que uma decisão salomônica é aquela onde as duas partes levam um pouco. Na verdade, a primeira proposta do Rei Salomão foi apenas um teste. A verdadeira decisão salomônica deu toda a razão para uma das partes.
Lembro essa história na semana em que se toma uma decisão fundamental sobre o Parque Tecnológico de Goiabeiras no âmbito da revisão do PDU de Vitória. Alguns empresários propõem que a área destinada ao Parque seja dividida entre atividades tecnológicas e áreas residenciais. O problema é que a área definida há mais de 20 anos, com 330.000 m² é pequena, considerando que inclui áreas de proteção ambiental e de antigas invasões do mangue, que não podem ser ocupadas. Tirando arruamentos e outras preparações do terreno a área líquida cai para menos de 200.000 m², pouco para uma cidade que se pretende inovadora, considerando que um Parque prepara a cidade para o futuro e que Florianópolis constrói um novo Parque(já tem outro) com 4.000.000 m². A construção civil poderia construir no local prédios comerciais para. uso de empresas de tecnologia, mas não residenciais.
Argumentos contrários falam da necessidade de moradias para os usuários do Parque, porém estes podem chegar rapidamente, até de bicicleta, de qualquer parte da cidade.
Outros percebem o Parque como algo de interesse apenas da indústria. Ledo engano. Embora as inovações tecnológicas estejam quase sempre associadas aos produtos, também no comércio a sua utilização é de vital importância. O futuro vislumbrado de entrega de produtos por drones, a utilização de linguagem natural para se comunicar com clientes, a análise de big data para conhecê-los e os algoritmos inovadores do comércio eletrônico são tecnologias de relacionamento com clientes. Afinal, a indústria produz mas quem entrega ao cliente é o comércio.
Depois de um parto de mais de 20 anos, a verdadeira decisão salomônica é definir que esse filho é apenas da tecnologia.
Sobre o autor:
Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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