Um estado clandestino

Na ditadura, pessoas perseguidas caiam na clandestinidade, mudando de identidade e ficando invisíveis para o Estado. O Espírito Santo também é quase invisível ao resto do Brasil, embora não precise fugir de ninguém.

Pessoas de renome, em eventos em Pedra Azul, perguntam espantadas porque escondemos essa maravilha. Amigos já se deslumbraram com a vista do Convento da Penha, a curva da terceira ponte, a imagem de um navio entrando no Porto de Vitória, o Frade e a Freira e a Praia da Bacutia.

Morei muitos anos fora do ES e as referências ao Estado se resumiam a Guarapari, ao Pico da Bandeira na escola, à Garoto e à Cachoeiro, terra de Roberto Carlos. Em momento para esquecer veio o destaque para a simbiose da política com o crime organizado. Houve ainda no Jornal Nacional a pajelança de Augusto Ruschi e mais recentemente a tragédia da Samarco.

Espremido culturalmente pelas exuberâncias de Minas, Rio e Bahia, o estado carece de uma identidade reconhecida nacionalmente. Esses três estados conseguem aparecer com sua música, sua culinária, sua história e até com seu sotaque carregado, coisa que estranhamente não nos identificam. Brigamos pela referência isolada da moqueca enquanto a torta capixaba não consegue passar da Páscoa.

Provavelmente esse quadro se explique pelos trezentos anos em que o Estado não pôde se desenvolver, protegendo o acesso às Minas Gerais. mas chega, temos de virar esse jogo.

Países pequenos como Dinamarca, Cingapura e Finlândia criaram uma identidade nova e recente com base na educação, e na inovação, e comprovam que pequeno não quer dizer desconhecido ou irrelevante – e nem para sempre.

Não adianta ficarmos incomodados e culpar os outros por não reconhecerem nossas belezas e qualidades, que realmente são muitas, mas que ninguém vem aqui ver.

Apesar de várias iniciativas e tentativas nos últimos tempos como o novo aeroporto, estradas duplicadas, novos portos e até o ajuste fiscal exemplar, os resultados são ainda tímidos para as nossas necessidades. É fundamental desenvolver a economia criativa e a inovação para criar uma identidade cultural e inovadora. O primeiro lugar no exame Pisa é um alento. Mas a estratégia de se mostrar para fora começa pelo turismo de negócios, com um Centro de Eventos de grande porte(que já apareceu e sumiu do noticiário), que atraia congressos de cinco mil pessoas,. Muitos visitantes estenderão a permanência, voltarão para lazer ou negócios e espalharão na rede o que viram. A rede de hotéis altamente ociosa está pronta. O que ver nós temos e vamos ter mais, mas temos que aprender a mostrar.

Sobre o autor:

Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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