Tive a paciência de assistir, na televisão, uma pregação feita por um desses pastores eletrônicos histriônicos. Em poucos minutos ele relatou casos de mortos ressuscitados, cegos que voltaram a enxergar e tetraplégicos que andaram, em uma quantidade de milagres maior que em toda a Bíblia. É impressionante a cara de pau com que estelionatários, caçadores de dízimos, enganam a população mais carente de dinheiro, educação e esperança. Os ressuscitados ou curados não são nunca mais encontrados para uma entrevista ou um exame médico.
Megatemplos dessas religiões são inaugurados até com esteiras rolantes para recolher dízimos e levar para os bastidores, como as esteiras de bagagens de aeroporto. Muitos políticos participam desses eventos, chancelando a bandalheira. Isso se explica pela avalanche de pastores candidatos a cargos eletivos, organizando partidos políticos e influenciando votações no Congresso. O apoio dessas igrejas é disputado porque o poder de influência é fortíssimo junto ao seu público. Não é possível que não se consiga separar as religiões sérias dessas patifarias que não pagam impostos e ludibriam a boa-fé do povo.
Há uma tentativa de amenizar as críticas na alegação de que essas igrejas contribuem para a recuperação de drogados e criminosos, o que faz lembrar Nelson Rodrigues ao dizer que há homens que, por dinheiro, são capazes até de uma boa ação.
As religiões mais discretas, envolvidas nas atividades comunitárias e na pregação evangélica, sem curas milagrosas e sessões apoteóticas, sentem a perda de fiéis, atraídos pelas promessas de solução instantânea de problemas físicos, financeiros e psicológicos. Mas isso não fica barato. Relatos na imprensa mostram pregações onde as pessoas são instadas a doar o que não tem ou comprar produtos que lembram o mercado de indulgências da idade média. Jornais publicaram que igreja lançou perfume com cheiro de Jesus e até um Deus-odorante, aquele que não te abandona. Casos vão parar na justiça quando alguns conseguem cair na realidade de que foram enganados e surrupiados nas suas economias. Ações patrocinadas pelo Ministério Público acusam alguns por lavagem de dinheiro e vídeos na internet mostram “bispos” dando aulas de como arrecadar mais dinheiro dos coitados fiéis.
Esses pastores tem um domínio de palco envolvente, manipulando palavras da Bíblia com maestria e grandiloquência, ora confortando com a graça divina, ora ameaçando com as profundezas do inferno, lembrando novamente Nelson Rodrigues quando dizia que falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista.
Sobre o autor:
Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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