Não vamos desviar o foco. A coisa mais importante que pode acontecer hoje para a economia do Espírito Santo é a volta da Samarco. Que pague todas as indenizações. Que recupere o Rio Doce. Que faça novas barragens ou crie novas soluções para os rejeitos da mineração. Mas uma punição que feche a empresa ou que retarde a sua volta à operação será uma punição ao povo do Espírito Santo. Milhares de empregos estão ameaçados e podem prejudicar milhares de famílias. Impostos deixaram de ser recolhidos por prefeituras e pelo Estado. Centenas de fornecedores perderam contratos e tiveram de demitir ou fechar as portas. Atividades de responsabilidade social da empresa junto às comunidades onde atuava, e que eram reconhecidas como exemplares, foram interrompidas, deixando um vazio irreparável.
Para Minas Gerais a Samarco é apenas mais uma mineradora, entre muitas que operam no Estado, mas para o Espírito Santo ela é imprescindível. Quem participou das discussões da retomada percebeu o pouco empenho daquele Estado em uma solução que, para nós, é urgente.
As matérias na imprensa escrita ou na televisão e manifestações ideológicas são míopes ao mostrar o desastre – e inegavelmente foi um desastre – sem considerar os efeitos perversos da paralisação da empresa. Esses efeitos também não são considerados por ambientalistas no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília ou no exterior, para quem a punição deveria ser drástica.
A empresa e sua diretoria eram reconhecidas – com justiça – como exemplo de atuação responsável e de pregação da sustentabilidade como um valor fundamental e, por isso, recebeu vários prêmios merecidos. Ideias modernas, como a de valor compartilhado, pregado por Michael Porter, eram propagados com sinceridade nos discursos. Esse espírito poderá ser retomado com a empresa revendo os processos que provocaram a tragédia.
A produtividade excepcional da empresa, reconhecida no universo das mineradoras, decorria principalmente da solução logística de utilização de minerodutos extensos, ligando a região produtora em Minas Gerais ao complexo industrial e ao porto dedicado à exportação. Todos os municípios na extensão dos minerodutos eram alvo de ações sociais importantes patrocinados pela empresa. O excelente relacionamento da empresa com fornecedores contribuiu para elevar o nível tecnológico e comercial de muitas empresas em vários setores industriais do Estado.
Não há dúvida que a volta urgente da Samarco, até para gerar os recursos para pagar as indenizações, deve ser a pauta prioritária da articulação política, empresarial e da sociedade do Estado.
Sobre o autor:
Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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