Em 2006, no município de Pinheiros, alunos do ensino fundamental iniciaram o Programa de Jovens Empreendedores. Professores treinados pelo Sebrae orientaram os alunos em um programa transversal de 3 meses onde eles aprenderam a montar negócios como lojinhas de artesanato ou brinquedos ecológicos ou uma locadora. O programa termina no final do ano com uma feira, aberta aos familiares e ao público, onde os produtos eram oferecidos. Os depoimentos de pais, professores e alunos demonstram o sucesso do programa que já atingiu 120 escolas e mais de 100.000 alunos no ES. Estes se interessaram mais por matemática para fazer as contas da empresas e dar troco, aprenderam a trabalhar em equipe, a lidar com clientes e começaram a se interessar pelo pequeno negócio que os pais tocavam.
Em recente debate que coordenei no Rio, o maior especialista brasileiro em políticas sociais Ricardo Paes de Barros(RPB) chamava a atenção para a ausência do tema empreendedorismo no currículo básico nacional. Esse currículo básico, no ensino médio, tem filosofia e sociologia mas não tem economia, diferente do currículo na Austrália que tem empreendedorismo e economia. O currículo no Brasil fala em cooperar, senso crítico, ser um bom cidadão, entender a sua posição social, mas não fala em risco, na importância de ousar. Estão lá a ênfase em cultura indígena, meio ambiente, TI, educação financeira e direitos humanos, mas não está empreendedorismo. A educação financeira aborda mais como se proteger dos bancos do que aprender a usar as finanças para empreender. As pessoas são formadas, em todos os níveis, para conseguir um emprego público ou para trabalhar como empregados, mas não saem da escola com o ímpeto de empreender e gerar novos empregos.
O Brasil tem a melhor instituição da América Latina no apoio ao empreendedorismo, o Sebrae, porém quem conhece a economia dos outros países da região percebe que o empreendedorismo é muito mais valorizado ali do que no Brasil.
Temos aproximadamente 22 milhões de pequenos empreendedores(com até 10 empregados), empregando 15 milhões de pessoas e juntos correspondem a 40% da força de trabalho. Para se ter uma ideia, a força de trabalho da Itália é de 23 milhões e da Argentina 15 milhões. Em outras palavras, quando se fala em pequenos negócios, temos uma Itália empregando uma Argentina no Brasil. É muita gente. E esse grupo, segundo RPB, é fundamental para provocar a inclusão produtiva de pessoas pobres que hoje dependem de bolsa família.
Precisamos urgentemente de um choque de empreendedorismo nas escolas brasileiras.
Sobre o autor:
Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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