Ruínas de um Sonho

Este é um livro construído sobre as ruínas de um sonho”. Assim, na contracapa do excelente “O Homem que amava os cachorros” do cubano Leonardo Padura, o jornal  L`Humanité resume a sensação, ao terminar o livro, de quem já compartilhou do sonho comunista na juventude. A revolução soviética de 1917, com a insanidade de acreditar que uma ditadura do proletariado comandaria as massas para um futuro brilhante de igualdade social, transformou-se em um projeto de poder pessoal, expurgos sanguinários, perseguições e assassinatos em massa de adversários, socialização forçada de propriedades e um saldo de 20 milhões de mortos comandados por um louco Stalin, O “Guia genial dos povos“, como era referido pelos sonhadores mundo afora. A história do assassinato de Trotsky – aliás, outro que praticou assassinatos quando ainda tinha poder – a mando de Stalin, romanceada brilhantemente por Padura, nos remete a uma Europa saindo de uma primeira guerra mundial devastadora e enfrentando a disputa pelas armas entre extrema esquerda e extrema direita.

O lado positivo dessa história é perceber que o mundo civilizado avançou e a política, cada vez mais, reduz o espectro ideológico de uma centro esquerda a uma centro-direita, sem os extremos das ditaduras. A economia de mercado prevaleceu e o sonho da redução das desigualdades avança dialeticamente nos embates entre capital e trabalho, onde o capital já não é o bicho-papão de outrora, do chamado capitalismo monopolista, mas agora entremeado pela ascensão econômica de milhares de pequenos empreendedores.

Infelizmente, parte da esquerda hoje ainda traz o ranço dessa época, demonizando o lucro e a propriedade privada, com sonhos de projetos políticos hegemônicos, trazendo ainda no subconsciente os devaneios das ditaduras do proletariado. Ainda acredita que o Estado é o grande empregador e responsável por uma economia que deveria ser planejada, sem olhar a história e ver que, como dizia Lênin, a teoria sem a prática de nada vale. E a prática mostrou que esse caminho só leva à burocracia, à estagnação econômica e à perda de liberdades individuais.

As palavras de Bakunin, anarquista e crítico de Marx, soam um tanto proféticas:

“ […] o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes […]não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.”

Evandro Milet é empresário