Continuando a comentar o livro “A 4ª revolução – corrida global para reinventar o Estado”, vemos que, em todo o mundo, governos passam pelo mesmo problema: as pessoas querem mais serviços mas não querem mais impostos. A conta não fecha. O economista americano William Baumol criou a figura da “doença de custos de Baumol”, significando ser impossível reduzir o tamanho do Estado, pois ele se concentra em áreas intensivas em trabalho, como saúde e educação e os mecanismos que impulsionaram a produtividade na indústria não valiam para serviços.
Entretanto, a revolução digital já transformou grandes áreas do setor de serviços como o varejo, jornalismo e publicação de livros. Em breve transformará a medicina e a educação.
Cinquenta anos atrás, as empresas sofriam o mesmo inchaço que hoje aflige os governos, mas se reinventaram, investindo em qualidade e tecnologia. Os governos podem fazer o mesmo. Na Inglaterra estima-se que a produtividade do setor privado tenha aumentado em 14% entre 1999 e 2013, enquanto no setor público diminuiu em 1%.
Alguns países estão conseguindo equacionar esse problema. Na Suécia, símbolo do “caminho do meio” entre capitalismo e comunismo, os gastos públicos como proporção do PIB quase dobraram entre 1960 e 1980, atingindo 67% em 1993. Resultado: impostos cada vez mais altos. Em 1991, o sistema bancário quebrou e tiveram de se reinventar. Os gastos públicos caíram de 67% para 49% e a dívida pública de 70% do PIB para 37% do PIB hoje. Acabaram com um emaranhado de impostos sobre propriedade imobiliária, doações, patrimônio e herança. Escolas gratuitas agora são tocadas pela iniciativa privada e pagas pelo Estado com o uso de vouchers. Hospitais públicos também são dirigidos por empresas privadas, mas cobrando uma taxa simbólica para desestimularem os usuários a abusar do sistema. Todos os indicadores de cada hospital são públicos: tempo de espera, taxa de êxito de cirurgias, índices de contaminação etc. Na Índia, mudanças de procedimentos e equipamentos mais simples conseguiram reduzir drasticamente os custos da medicina.
Como na Suécia, também na Dinamarca, a idade mínima para aposentadoria passou de 65 para 67 anos e criaram a flexiguridade: empresas podem demitir empregados quase com a mesma facilidade dos americanos, mas o governo ajuda os demitidos a encontrar novos empregos. Em Cingapura 90% da assistência social é feita por ONG’s e paga pelo estado. China e Inglaterra tentam fazer o mesmo.
Enfim, existem maneiras de fechar essa conta enfrentando preconceitos e corporações e investindo em gestão e tecnologia.
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente.
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