Um dia chegaremos lá

 

Antigamente todos os brasileiros(homens na sua maioria) eram técnicos de futebol. Depois do famigerado 7×1, muitos desistiram ou se transferiram para o futebol europeu.

Agora todos são analistas políticos(inclusive as mulheres), discorrendo com autoridade sobre partidos, mandatos, formas de governo, impeachment, golpe, delações premiadas e até conduções coercitivas.

Mas se no futebol os comentários eram razoáveis, na política muitas opiniões ditas e postadas são preocupantes.

Um problema é candidaturas presidenciais. Nomes fora da política como Joaquim Barbosa e Sérgio Moro surgem para salvar o país da corrupção. É importante ter em mente que um presidente, além de ter ideias  de como governar o país, deve saber organizar um governo, ter equipe e saber lidar com um Congresso composto de figuras de todo tipo. De outro modo, por mais honesto que seja, ficará paralisado. As duas figuras citadas, certamente dignas de todo o respeito do povo brasileiro, não têm uma visão geral de governo e nem têm as conexões com os partidos para formar uma maioria estável para governar. E – ainda bem – não mostraram interesse nesse papel.

Muitos não confiam na política e nos partidos e querem mesmo alguém de fora. Mas a política tem de ser feita com partidos que representam um conjunto de ideias, mesmo que, no Brasil, a mistura seja bem grande. Afinal, quem elege os políticos somos nós e só com anos de prática da democracia esse processo será depurado.

É tentadora a ideia de renovação de lideranças e partidos, mas em 1989, na primeira eleição direta para presidente depois da ditadura, com a ideia de renovação no ar, várias lideranças antigas como Brizola, Covas, Ulysses e Aureliano, foram derrotadas e o segundo turno se deu com as novidades Collor e Lula. Pagamos por isso até hoje.

Outra corrente aparece com figuras ideologicamente asquerosas e defensores de condutas medievais como esse Bolsonaro(argh!). Sem equipe, isolado no Congresso, lembra um outro salvador da pátria – Collor – já encaminhado para o lixo da história.

Outros sugerem um empresário ou executivo de sucesso no comando do país. Não é a mesma coisa dirigir uma empresa onde empregados seguem regras ditadas pela alta administração e um país onde os poderes são independentes, funcionários são estáveis e a gestão está sujeita a críticas da opinião pública. Não é impossível, mas pode ser perigoso. A Itália teve Berlusconi.

Enfim, vamos nós praticar a democracia, elegendo aqui, promovendo impeachments acolá, dentro da constituição. Muita coisa está mudando. Agora vamos de Temer. Um dia chegaremos lá.

Evandro Milet

Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente. 

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